Gente: Caminho para a Sustentabilidade – Mulheres que Transformam

  abril 3, 2023
Benedita da Silva, a Bena, tocando flauta tradicional. Foto: Coletivo 105

Em 2023, o IEB completa 25 anos de atuação, sempre acreditando que o verdadeiro caminho para a sustentabilidade está no fortalecimento das pessoas e dos processos de organização coletiva e social. Por isso, lançamos neste mês a série “Gente: Caminho para a Sustentabilidade”, que trará ao longo do ano um conjunto de histórias, vozes e rostos de parceiros e parceiras de nossas ações. Estas histórias serão publicadas aqui no site e nas redes do IEB. Vem com a gente e conheça muita gente inspiradora que vive para transformar o mundo num lugar melhor!

No mês de março, a pauta da sérieGente: Caminho para a Sustentabilidade” são as mulheres que vêm transformando os seus territórios. Referências na agenda do clima, lideranças comunitárias, extrativistas dos produtos da sociobiodiversidade, agentes de saúde, defensoras das culinárias locais e da segurança alimentar, geradoras de renda em suas comunidades; lugar de mulher é onde ela quiser e o IEB aprende muito com as parceiras e irmãs que cruzaram nossa história nesses 25 anos.

Conheça algumas dessas referências na luta pelo Bem-Viver não só de suas comunidades e territórios, mas do nosso planeta, que grita por novos caminhos e soluções.

SINEIA DO VALE
Autoridade climática global, Sineia do Vale, do povo Wapichana, é coordenadora do departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e tem representado os povos indígenas do Brasil em discussões nacionais e internacionais sobre mudanças climáticas há anos.

Sineia é mulher, mãe, gestora ambiental e mestranda. São infindáveis os adjetivos para descrever essa mulher-referência, que tem levado a voz dos povos indígenas e suas perspectivas sobre o enfrentamento às mudanças climáticas pelo mundo, buscando ao longo de toda sua vida a garantia do Bem Viver dos parentes e parentas de Roraima, do Brasil e do planeta.

“Gosto muito da área que eu trabalho, a área ambiental e gosto muito de trabalhar na área das mudanças climáticas”, conta Sineia que além do respeito nos fóruns internacionais, também é referência na Amazônia, especialmente em Roraima, onde se especializou em participar e coordenar os planos de gestão ambiental e territorial e estudos de casos de mudanças climáticas.

Sineia do Vale modera mesa que apresenta a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas, no no Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas, durante a COP 27, no Egito. Foto: Adriano Maneo

E não é só isso. Sineia também mobiliza formações de agentes ambientais e é muito ativa na parte de incidência política, do nível local ao global. É membro do conselho do FunBio, do Consea, e também ponto focal em mudanças climáticas na Rede de Cooperação Amazônica (RCA).

No ano passado, participou mais uma vez da Conferência do Clima (COP 27) e dos encontros da Plataforma de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da Convenção. Um pouco de sua participação nesse espaço você confere nesta matéria no site do IEB.

GERCIANE BORGES
Entre palafitas, árvores e rios, Gerciane Borges, 32, foi criada em sintonia com a floresta amazônica, na comunidade São Tomé do Macacoari, Amapá. Ainda menina, aprendeu a fazer bolos e pudins utilizando frutos tirados direto de seu quintal, saber que seria resgatado anos depois, já na fase adulta, para criar suas duas filhas.

“Mulher empoderada, decidida, focada nos objetivos que a vida propõe, o que é de melhor pra mim eu abraço. Abraço mesmo e sigo em frente, e no meu caminhar sempre vou plantando sementinhas que possam crescer, florir e multiplicar frutos”, diz ela.

A história de Gerciane se une a de outras tantas mulheres agroextrativistas que dividem seu tempo entre o trabalho doméstico, o cuidado com a família e a lida nas roças e quintais.

A relação do IEB com ela começou durante a construção de um protocolo comunitário no território do Beira Amazonas. A partir desse encontro, Gerciane participou de rodas de conversas e cursos, até chegar à Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, um espaço coletivo com potencial para estimular a produção da culinária local, a segurança alimentar e a geração de renda.

“A Cozinha Coletiva do Beira Amazonas fez uma grande diferença. Me fortaleceu muito como mulher, como mãe e como moradora da comunidade. Todas as oficinas, todas as reuniões, todos os cursos, faz com que a gente tenha um olhar diferente. A gente começa a trabalhar sustentabilidade do nosso território. É amar, respeitar o lugar onde a gente está e cuidar e preservar”.

Você sabia que as mulheres do projeto da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas publicaram um lindo livro de receitas amazônicas com produtos da sociobiodiversidade local? Baixe aqui e se delicie!

BENEDITA PARINTITIN
“A mulher, mãe e indígena, ela tem uma rotina multidisciplinar dentro do território, mas na verdade todas nós temos”, conta Benedita Parintintin, conhecida como Bena.

Bena é vice-cacica da Aldeia Canavial, Terra Indígena (TI) Ipixuna, no rio Madeira, próxima ao município de Humaitá (AM), além de agente ambiental e de saúde em sua comunidade.

Benedita da Parintintin, a Bena, tocando flauta tradicional. Foto: Coletivo 105

“Me envolvo no movimento, me dedico como indígena, sou uma mulher guerreira que abraça as causas e não deixo de lutar. Busco conhecimento e o fortalecimento do meu povo”, conta.

É difícil pensar em algo que Bena não faz. Carismática e corajosa, é inspiração e desperta orgulho de suas parentas no sul do Amazonas.

“Sou agente de saúde, trabalho na roça, cuido do meu pequeno saf, cuido das minhas galinhas, lavo roupa, cuido de criança, faço comida, faço farinha, faço plantio, vou caçar, vou pescar, tiro castanha, essa é minha rotina do dia-a-dia”, tenta resumir.

Parceira do IEB há anos, Bena também é uma Parenta no Clima, um grupo de mulheres indígenas do sul do Amazonas que pesquisam e monitoram os efeitos das mudanças climáticas em seus territórios. Para saber mais sobre o Parentas no Clima e do Entre Parentas, confira o vídeo sobre a formação aqui!

Raquel ‘Cacau’ dos Santos defende o papel da mulher extrativista durante 1º Encontro Nacional de Castanheiros e Castanheiras da Amazônia, em Manaus. Foto: Adriano Maneo

RAQUEL ‘CACAU’ DA SILVA
Diretora na Associação dos Moradores da Comunidade do Jaramacaru e Região, em Óbidos, no Pará, Raquel da Silva, a Cacau, é exemplo de que a mulher extrativista merece mais reconhecimento.

Membra do Coletivo da Castanha, grupo de extrativistas organizado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), ela foi destaque no 1º Encontro Nacional de Castanheiros e Castanheiras da Amazônia com sua juventude e falas incisivas no auditório lotado.

Debaixo de aplausos, Cacau contou o dia a dia da mulher extrativista. “A gente comboia mesmo. Coleta, quebra, carrega duas sacas pela mata e não é pouca coisa não. É coisa de seis, sete quilômetros carregando castanha. Pense!”

“O que quero dizer é que sou extrativista sim, com orgulho, faço parte de uma diretoria que briga mesmo pelo direito do extrativista. A gente não tem medo. Não tem!”

Foi ela, também, a responsável pela leitura da Carta do 1º Encontro Nacional de Castanheiros e Castanheiras da Amazônia, que chegou até as mãos do então candidato à presidência, Lula.

Entre as mais ativas membras do Coletivo da Castanha, Cacau registra seu dia-a-dia e compartilha, mostrando o poder que a juventude vem trazendo para mostrar o valor do extrativista para o mundo.

Conheça o Coletivo da Castanha no site do Observatório Castanha-da-Amazônia. E para conferir o que rolou no histórico 1º Encontro Nacional de Castanheiros e Castanheiras da Amazônia, leia o relato completo e assista ao vídeo do Encontrão.

DADÁ APURINÃ
De sorriso largo e jeito firme, Dacilene Apurinã, Makaya na língua original ou Dadá para os mais próximos, é liderança e ativista da Terra Indígena (TI) Água Preta Inari, próxima ao município de Pauini, estado do Amazonas.

“Eu estou no movimento indígena desde que nasci, porque quando nasci já foi pra somar mais uma pra luta dos povos indígenas”, conta.

Dadá é uma das mulheres que transformam o mundo e propõe soluções no dia a dia para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas no Parentas no Clima.

“Vim conhecer o IEB de pertinho no Entre Parentas esse projeto que envolveu a mulherada do sul do Amazonas e Madeira pra formar essa rede, e pra dar uma visibilidade nos trabalhos das mulheres dessas comunidades para a aldeia e na luta dos povos indígenas”.

Como ela mesmo coloca, o foco do seu trabalho é sempre visando o bem-estar da vida do seu povo, na luta pela garantia dos direitos indígenas. Viva Dadá!

MARIA CREUSA
Residente no município de Porto de Moz, no Pará, desde os 13 anos de idade Maria Creusa se engaja em movimentos de defesa do território, participando da criação e implementação de diversos projetos locais. Ela é reconhecida como uma grande líder e defensora do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar (MFCF).

“Hoje nós temos o nosso maior produto durante esses quase 30 anos de luta, nós temos uma unidade de conservação criada, com 1.300.000 hectares, com 2.350 famílias, que dá no total mais de 15 mil pessoas dentro dessa unidade”, conta Maria Creusa, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre.

“No ano de 2002 eu comecei como coordenadora do Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz e como também trabalhando pela Associação de Mulheres do Campo e Cidade, eu comecei a ter contato com várias organizações, entre elas o IEB, que veio a Porto de Moz com várias oficinas na questão do aproveitamento de fibras, na questão do Manejo Florestal Comunitário e gênero”, conta.

“Coordenei vários projetos junto com outras mulheres, e como resultado desses projetos, nós temos hoje na Resex sete projetos aprovados e em execução”, comemora Maria Creusa.

GÊNERO E CLIMA
Já conhece o infográfico Gênero e Clima, do Observatório do Clima (OC)? O IEB é parte do Grupo de Trabalho Gênero e Clima do OC e participou da construção desse rico material que é resultado de dezenas de reuniões e escutas com diversas mulheres das organizações do Observatório e de outros grupos sociais. A ideia foi refletir em torno da pergunta “por que gênero e clima?” e organizar de forma simples e objetiva as respostas encontradas. Acesse o infográfico e entenda porque o recorte de gênero é fundamental na discussão sobre mudanças climáticas.

Texto, reportagem e edição:
Adriano Maneo
Juliane Frazão
Luana Luizy
Miguel Haru
Raphael Castro
Thiago S.Araújo