Workshop discute estratégia para a cadeia produtiva de sementes no estado do Pará

  março 4, 2024

O evento foi realizado pelo Ideflor-Bio, com apoio do IEB, por meio de projeto financiado pelo Fundo da Amazônia Oriental (FAO)

No dia 27 de fevereiro, representantes do governo do Pará, da academia, da sociedade civil e de comunidades tradicionais se reuniram em um workshop, realizado de maneira híbrida a partir de Belém, para dialogar sobre a estratégia de rede de sementes no território paraense.

O encontro foi promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), com o objetivo de coletar subsídios para qualificar a estratégia que vem sendo construída pelo governo do Pará.

A ação se insere no projeto “Semeando Vida: Rede de sementes, estratégia de organização e gestão para apoio à cadeia da restauração em florestas públicas do Estado do Pará” realizado pelo Ideflor-Bio, com o apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), e financiamento do Fundo da Amazônia Oriental (FAO), por meio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

Na abertura do workshop, o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou a necessidade da organização adequada da cadeia produtiva de sementes. “O governador [do Pará] tem dito que precisamos virar a chave, mudar a ênfase histórica do desmatamento. Isso não se faz sozinho, se faz com organização, com participação coletiva e com uma bela engenharia. E é isso que estamos fazendo aqui. Como montar esse sistema que vai fazer com que o Pará possa trabalhar na restauração da sua floresta, é preciso um trabalho fantástico de organização e coleta de sementes”, afirmou Nilson.

Nilson Pinto destacou ainda a importância da escuta de diferentes atores na construção de uma estratégia aderente à realidade do Estado. “É preciso chamar a todos os que têm condições de participar, de contribuir, para que se possa definir exatamente os problemas, as potencialidades, encontrar os caminhos. Não é um trabalho a ser feito a curtíssimo prazo, é uma soma de contribuições e esse workshop tem exatamente essa finalidade. Foi muito bom já ouvir aqui as ansiedades, as críticas, as cobranças e as proposições. Com certeza, este é um trabalho de construção necessário, porque esta é uma causa absolutamente fundamental para o Pará, para o Brasil e para o mundo”, pontuou o presidente do Ideflor-Bio.

Gerente de Projetos do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Andréia Mello destacou que a vinda da Conferências das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-30), ao Pará, está trazendo luz para os grandes desafios que o estado enfrenta.

“Um dos desafios é a implementação do Plano Estadual Amazônia Agora, que tem uma série de linhas que visam enfrentar o desmatamento e as mudanças climáticas, dentro das características da região de Amazônia e Cerrado que o estado possui dentro da grandiosidade o tamanho dele. Quando a gente olha então para os desafios de restauração, por exemplo, criar uma rede de sementes é fundamental pra gente ter as bases das discussões para implementação da restauração, e não só comprar de fora as sementes ou de organizações muito mais estruturadas, mas olhar para quem tá aqui no território fazendo a diferença. E é por isso que o Funbio tá dentro desse apoio junto com Fundo Amazônia Oriental, que é por meio deles que a gente tá aqui no território”, enfatizou Andréia.

Mesa de abertura do workshop sobre estratégias de rede de sementes no estado do Pará. Nilson Pinto (Ideflor-Bio), Andréia Mello (Funbio) e Manuel Amaral (IEB)

O arcabouço de políticas públicas ligadas à estratégia da rede de sementes no Pará foi apresentado por Ivan Ribeiro, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Cintia Soares, do Ideflor-Bio. A servidora também apresentou a estratégia de sementes formulada pelo órgão e os principais resultados esperados.

Representando o IEB, a analista socioambiental Deborah Pires e o advogado Ramon Santos fizeram apresentações sobre oportunidades e gargalos na legislação nacional e estadual sobre coleta, beneficiamento e comercialização de sementes no Pará.

Deborah frisou que uma das grandes problemáticas da restauração de áreas degradadas são as sementes. Neste sentido, o workshop serviu para mapear instituições que podem contribuir com o projeto.

“Hoje recebemos aqui pesquisadores de instituições de pesquisa, ensino e tecnologia, lideranças de base comunitária e, também, representantes do Governo do Estado. Todos já executam políticas públicas e, por isso, o encontro serviu para entender de que forma a rede pode unir tanto o conhecimento técnico científico, quanto às ações do Estado. Além disso, a programação buscou ouvir as necessidades e de que forma as lideranças das comunidades enxergam a cadeia da restauração e de coleta de sementes dentro dos seus territórios”, detalhou Deborah.

Noemi Vianna Leão, pesquisadora do Laboratório de Análise de Sementes Florestais (Lasf) da Embrapa Amazônia Oriental; Seidel dos Santos, da Universidade do Estado do Pará (Uepa); e Everton Almeida, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), trouxeram experiências conduzidas em suas instituições.

Considerada uma das referências da área, Noemi destacou as experiências acumuladas pelo Lasf/Embrapa, desde 1979. A pesquisadora fez uma síntese sobre diferentes experiências em áreas de coletas de sementes, destacando os pontos de atenção na fenologia reprodutiva e como o conhecimento científico pode contribuir para a formulação de programas adequados às coletas de sementes de diferentes espécies.

Em outra mesa, o workshop também destacou demais iniciativas em curso no Pará, reunindo Amanda Quaresma, da Aliança para a Restauração; Edivan Carvalho, do Ipam, que apresentou a rede de sementes do Tapajós; Robson Machado, do Peaex Acangatá, em Portel, que compartilhou a experiência do projeto Marajó Socioambiental 2030; e Maria Creusa Ribeiro, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, que falou sobre o projeto Floresta Viva e a rede de sementes na Resex.

“Com esse debate que teve hoje, sobre a questão das sementes, é necessário que haja uma política mais bem discutida junto com as comunidades para ver de que forma a gente vai estar mantendo isso dentro das comunidades, fazendo essa questão da coleta. O evento foi muito importante para a troca de experiência”, frisou Robson Machado.

Maria Creusa falou sobre a importância dos conhecimentos tradicionais. A agroextrativista compartilhou memórias de como os seus avós manejavam a floresta, antes mesmo do ato de criação da Resex por parte do governo federal. “Eu me criei vendo o meu avô plantar, ele tinha uma preocupação muito grande, tinha um local onde ele fazia a plantação das espécies de maniva, ele mesmo fazia a seleção e a minha avó cuidava do armazenamento das sementes. Pra mim aquilo era um viveiro, de acordo com a forma da realidade daquela região. Ele não tinha um laboratório, mas tinha um conhecimento”, contou Maria Creusa.

Maria Creusa, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, foi uma das lideranças convidadas ao evento

Sobre o projeto Floresta Viva, Maria Creusa afirmou que o objetivo é fazer a restauração, de uma forma que a soberania alimentar também possa ser garantida. “O projeto vai envolver 60% das mulheres agroextrativistas da Resex Verde para Sempre, isso porque as mulheres têm um olhar que vai além, se preocupam com os filhos e com a família. Vamos trabalhar com as mulheres para que elas possam aparecer no mapa, já que grande parte do trabalho feito [por elas] na floresta não têm visibilidade. Quando a gente adoece, a gente vai pro nosso quintal produtivo, no interior chamado de terreiro, para poder pegar as plantas medicinais, nesse mesmo quintal a gente tem pé de maracujá, quer ter pé de uxi, que está cada vez mais difícil de encontrar na mata. A gente quer que a família que esteja manejando aquela área se preocupe primeiro com o seu bem estar, e depois forneça seus produtos para os colegas consumidores”, cravou Creusa.