Santo Ezequiel Moreno recebe oficina sobre tecnologias sociais voltadas ao saneamento

  setembro 28, 2023

Ação antecede obras de instalação de banheiros e sistema de abastecimento de água potável

À beira do rio Acutipereira, atrás de um dos barrancos flutuantes de mururés que rodeiam o município de Portel (PA), está localizada a comunidade Santo Ezequiel Moreno, no Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista (Peaex) Acutipereira. Nos dias 19 a 21 de setembro de 2023, o território recebeu a oficina de multiplicadores da tecnologia social “Sanear”, promovida pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com o apoio da ONG Sociedade, Meio Ambiente, Educação, Cidadania e Direitos Humanos (Somecdh), por meio do projeto Sanear Marajó.

A comunidade foi um dos territórios escolhidos para a implantação de tecnologias sociais de acesso à água para consumo humano, produção de alimentos e inclusão social e produtiva na Amazônia. A iniciativa conta com a parceria do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil.

Organizada em pontes e palafitas de madeira, Santo Ezequiel Moreno reúne cerca de 50 famílias que encontram no território seus meios de subsistência e de vida. Apesar de estarem cercados por rios e igarapés, a água é um dos maiores desafios da comunidade.

Morador de Santo Ezequiel Moreno, Jailso relata ser comum o aparecimento de doenças de pele nas crianças da comunidade

“É meio complicada a situação hoje, nós não temos um saneamento para que a gente possa cuidar corretamente como deveria ser, né. Descartamos tudo na água, não porque nós queremos, mas porque é o único jeito que tem”, conta Jailso Silva, um dos comunitários de Santo Ezequiel Moreno.

 “A nossa situação já melhorou bastante desde quando a gente conseguiu fazer a instalação do poço. Só que a gente ainda usa a água do rio para tomar banho, e vem ocorrendo muito essa questão de alergia e outras coceiras. Constantemente a minha filha de 6 anos está com alergia na pele”, afirma Jailso.

Maria Oneide conta que, em determinadas épocas do ano, aumenta o número de crianças com vômito ou diarreia

 Presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Comunidade Santo Ezequiel Moreno (ATAA), Maria Oneide Mendes reforça o relato de adoecimento de crianças do território. “Hoje a gente utiliza água de um poço artesiano, mas que ainda não é uma água 100% para consumo. A maioria dos nossos banheiros são a céu aberto e os dejetos vão direto para a água do rio. Da semana passada para cá, tem muitas casas com crianças que estão com vômito e diarreia”, revela.

Por meio do projeto Sanear Marajó, Santo Ezequiel Moreno vai receber a implantação de uma rede de abastecimento e distribuição de água e de 45 banheiros equipados com biodigestores. A realização das oficinas de multiplicadores das tecnologias sociais é uma das etapas que antecedem o início das obras.

Analista socioambiental do IEB, Elcio Costa explica que esta etapa possui papel relevante para estimular a autonomia e a capacidade de autogestão das comunidades em relação às tecnologias sociais. “São os próprios beneficiários que ficarão responsáveis em fazer a manutenção e a conservação dos equipamentos, nesse sentido as oficinas são para capacitar os atores locais para que possam dar essa assistência na comunidade, uma vez que o projeto acaba, mas os equipamentos ficam, então a comunidade vai precisar saber manusear essas tecnologias, garantido assim a longevidade dos equipamentos”, pontua Elcio.

Coordenadora de projetos da Somecdh, entidade parceira do IEB para a execução das obras, Michele Monteiro comenta sobre a importância do envolvimento comunitário para a implantação das tecnologias. “Esse é um momento de pactuação onde a gente cria uma relação com a comunidade que vai ser fundamental para o andamento da obra, porque a contrapartida comunitária é o que dá fôlego para as ações fluírem com mais facilidade”, avalia Michele.

“A comunidade também participa da obra, da distribuição dos materiais e da execução.  A gente aproveita a mão de obra local justamente para que eles aprendam a construir essa tecnologia e futuramente consigam fazer a manutenção como a mão de obra da comunidade”, reforça o engenheiro da Somecdh, Renatto Silva.

A tecnologia social “Sanear” será implementada com o apoio da ONG Sociedade, Meio Ambiente, Educação, Cidadania e Direitos Humanos (Somecdh)

Oficina

No dia 19 de setembro, o IEB reuniu representantes das 40 famílias beneficiárias para alinhar as contrapartidas comunitárias em relação ao projeto. O instituto também fez uma apresentação geral do Sanear Marajó, expôs os principais resultados levantados durante o diagnóstico socioambiental e orientou sobre formas de tratamento para melhorar a qualidade da água.

Nos dias 20 e 21 de setembro, IEB e Somecdh reuniram com as 25 pessoas responsáveis por repassar informações sobre a tecnologia “Sanear” aos demais membros da comunidade. A equipe apresentou os principais dispositivos que serão instalados e conduziu momentos de reflexões sobre o melhor arranjo comunitário para a gestão local da tecnologia social.

Sanear Marajó

O projeto vai implantar tecnologias sociais de saneamento, incluindo o abastecimento de água potável de qualidade, sistemas agroflorestais e cozinhas agroextrativistas, nos municípios de Breves, Portel e São Sebastião da Boa Vista, no Marajó (PA). O objetivo é fortalecer e estruturar a cadeia do açaí na região, impulsionando melhorias da qualidade de vida e dos padrões de produção e gestão de empreendimentos comunitários.

Ao todo a iniciativa prevê a implantação de 200 tecnologias sociais de módulo individual em diferentes territórios do Marajó; quatro tecnologias sociais de módulo coletivo; o plantio de 160 mil mudas de espécies nativas em quintais florestais; a estruturação de quatro postos de colheita e manipulação do açaí; e a construção de quatro cozinhas agroextrativistas. Também serão realizadas formações para lideranças agroextrativistas. 

Implementado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o Sanear Marajó conta com a parceria do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil, e apoio do Fundo Socioambiental da CAIXA.

As ações do Sanear Marajó reforçam as estratégias de outros projetos do IEB implementados no território, o Marajó Socioambiental 2030, que tem o objetivo de estimular a restauração florestal e o fortalecimento de comunidades nos municípios de Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho. A iniciativa conta com o apoio financeiro do Fundo Socioambiental da CAIXA.

E o projeto “Florestas de Vida: fortalecendo estratégias de governança florestal e redes em prol da regularização fundiária na Amazônia”, implementando nos estados do Pará e Amazonas, com apoio da organização ambiental estadunidense Rainforest Trust, com o objetivo de apoiar a titulação de mais de 2 milhões de hectares de terras tradicionais na Amazônia brasileira.