Organização comunitária garante manutenção de crédito para manejo florestal na Resex Verde para Sempre, no Pará

  outubro 16, 2021

No último 29 de setembro, a Associação Comunitária do Espírito Santo, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre iniciou o pagamento do empréstimo obtido para financiar as atividades de extração sustentável de madeira. A Resex Verde para Sempre é uma unidade de conservação na modalidade reserva extrativista com mais de 1,2 milhão de hectares, a maior do Brasil, localizada no município de Porto de Moz, no Pará.

Em 2020, os comunitários conseguiram financiamento junto ao Banco da Amazônia (Basa), por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com uma linha de crédito inédita específica para o Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF). No entanto, com a pandemia de covid-19, a safra do manejo madeireiro na comunidade acabou sendo impactada  diretamente nesse ano, com isso os extrativistas não tiveram recursos para iniciar o pagamento das prestações do empréstimo no prazo inicialmente estipulado, vencido no início do ano de 2021.

José Francisco de Jesus, mais conhecido como Preto, presidente da Associação Comunitária do Espírito Santo relembra algumas das dificuldades que levaram à inadimplência: “A gente teve uma despesa muito alta também com infraestrutura, perca de madeira, algumas toras ficaram no pátio, a empresa não comprou porque ela já estava estragada. algumas toras ainda foram possível vender, mais a maioria da espécie Muiracatiara  quase 90% da espécie que estava no pátio de 2019/2020 a empresa não comprou, pois estava todas já brocadas. Então isso nos causou problemas financeiros muito sério”.

Mas a inadimplência da comunidade nunca foi o objetivo do acesso ao crédito, passada a fase mais difícil da pandemia, e com a possibilidade de retomada das atividades do manejo florestal comunitário, Associação Comunitária do Espírito Santo, junto com o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar e Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz iniciaram um planejamento para garantir o pagamento do empréstimo e assim a garantia da manutenção de crédito junto ao Banco da Amazônia, essa força tarefa trabalhou em diversas frentes, com ações de fortalecimento de gestão, planejamento das atividade da safra da madeira de 2021 e negociação de prazos e condições de pagamento junto ao banco.

O resultado foi o pagamento de 40% do valor efetuado em setembro. Além disso, o planejamento e o acompanhamento da gestão comunitária vão garantir que os extrativistas mantenham a qualidade de suas atividades produtivas e evitem novas inadimplências, reafirmando a pertinência das políticas públicas de crédito para o manejo florestal comunitário. Com as contas em dia, o avanço da vacinação e ainda as medidas de segurança contra a covid-19, Preto está confiante no avanço do trabalho, sobretudo com os recursos facilitados pelo financiamento junto ao Basa. “Hoje a gente já tem um caminhão próprio que é fruto desse custeio, não 100%, mais ajudou bastante, temos alojamento, enfim não estamos bem estruturados, mais do pouco que temos a gente pode mostrar pra qualquer um que foi fruto do nosso trabalho. Mas estamos por aqui batalhando para dar continuidade no serviço e finalizar esse pagamento se Deus quiser!”, comenta o extrativista.

As operações de crédito de custeio pelo Pronaf, a partir do Basa, para o Manejo Florestal Comunitário passaram a ser uma realidade dentro da Resex Verde para Sempre em Porto de Moz desde de 2018, fruto de uma articulação interinstitucional envolvendo diversas organizações de assessorias, ensino e pesquisa, articuladas em torno do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar, com destaque para o apoio do instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), além da associação do Espírito Santo, a Cooperativa do Arimun, foi outra organização que também acessou o crédito e já se encontra em sua segunda operação de custeio da safra da madeira, os pagamentos têm sido honrados e quitados antes mesmo do prazo, o que permite às organizações comunitárias menores juros e capacidade de acesso ao capital de giro para as operações do Manejo dos anos seguintes.