No Amapá, agroextrativistas participam de mais uma etapa de formação focada em gênero e gestão de empreendimentos

  outubro 26, 2023

Situada a 12h de barco de Macapá, a comunidade de Jangadinha, no arquipélago do Bailique, recebeu o quinto círculo do Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos, realizado entre os dias 12 e 14 de outubro. Promovido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com a parceria local da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e do Beira Amazonas (Amazonbai), o curso abordou práticas de manejo e conservação da biodiversidade e reuniu cerca de 50 agroextrativistas do Beira Amazonas e do Bailique.

A formação integra dois projetos nos quais o IEB tem participação, o Programa Economias Comunitárias Inclusivas, apoiado pelo Fundo JBS pela Amazônia (FJBSA); e o projeto Semeando a Sustentabilidade, coordenado pelo IEB, com investimento do FJBSA e da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA); e parceria institucional do Aliança Bioversity/CIAT e da Amazonbai.

Analista socioambiental do IEB e uma das facilitadoras da formação, a engenheira agrônoma Deborah Pires conta que o curso propôs reflexões sobre diferentes sistemas produtivos presentes no ambiente rural amazônico, com foco em sistemas produtivos sustentáveis, como consórcios de plantas em Sistemas Agroflorestais (SAFs).

“Os cursistas entenderem diferentes conceitos de extrativismo e perceberem que, além de praticar o extrativismo vegetal, com o açaí, também são pescadores artesanais. Além disso, falamos também sobre agricultura e os tipos diferentes de culturas – de ciclo curto e longo -, o que fez com que eles também se identificassem como agricultores que já praticam os Sistemas Agroflorestais, já que todos têm quintais produtivos que envolvem tanto espécies florestais quanto agrícolas em suas propriedades, com uma diversidade de espécies alimentares de variados ciclos de desenvolvimento e com a criação de animais de pequeno porte, como suínos e aves, e de grande porte, como bubalinos”, afirma Pires.

Apresentação de maquete de quintais produtivos

Presidente da Cooperativa Amazonbai, Amiraldo Picanço, revela que a formação faz parte da estratégia de fortalecimento da cooperativa. “A gente está trabalhando o nosso grupo de mulheres aqui do território do Bailique, onde a gente está tendo a oportunidade de dialogar, falar sobre o trabalho com a cadeia produtiva do açaí, abordando a questão de gênero e da juventude, para sair daqui muito mais fortalecidos, principalmente a mulheres, muito mais empoderadas e engajadas num processo de desenvolvimento econômico e social dentro das comunidades tradicionais”, pontua Amiraldo.

Presidente da Amazonbai, Amiraldo Picanço afirma que a formação é uma estratégia voltada ao fortalecimento de mulheres e jovens dos territórios

Para Francidalva Sena, moradora de uma comunidade situada em frente à Jangadinha, processos de formação como esse resultam em mais produtividade e qualidade de vida. “Antes de ser cooperada era muito difícil pra nós porque não tinha muito conhecimento com o açaí, a gente colhia, mas não sabia como trabalhar com manejo e também a gente entregava pros atravessadores e era explorado porque eles davam a quantidade que eles queriam. Depois de ser cooperada e fazer algumas oficinas e cursos melhorou muito a nossa renda, a gente começou a coletar mais o nosso produto e dentro da cooperativa a gente fecha um valor até o final da safra, então a gente não perde, a gente sempre ganha”, comemora a agroextrativista.

Metodologia

O Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos segue o princípio da Alternância Pedagógica, onde os tempos e espaços de formação são alternados com o Tempo Comunidade (TC), visando  uma problematização da realidade e à reflexão a partir dos conhecimentos técnico-científicos obtidos durante a realização das etapas de formação presencial.

A concepção dos percursos formativos é realizada de forma participativa, ou seja, junto com as comunidades e os demais grupos envolvidos na formação, garantindo com que as demandas por novos conhecimentos técnico-científicos sejam sensíveis às realidades locais.

A formação começou em agosto de 2022 e prossegue até fevereiro de 2024. Já foram abordados temas como gênero e equidade, comunicação comunitária, fortalecimento organizacional, economias comunitárias e governança territorial.

A formação integra a estratégia de gênero e sustentabilidade do Programa Territorialidades do IEB, que busca apoiar processos de organização coletiva e social, com  objetivo de facilitar a inclusão socioprodutiva de diferentes segmentos sociais da Amazônia.

O círculo formativo realizado em Jangadinha foi focado no entendimento dos diferentes tipos de extrativismos, da agricultura e dos seus ciclos de espécies vegetais e animais.

Também foi realizado um mapeamento de fauna e flora nativas nos territórios das(os) educandas(os), seguido da montagem de um sistema agroflorestal, representado por uma maquete de acordo com a realidade local.

Socialização da dinâmica de mapeamento de fauna e flora nativas nos territórios

A programação também envolveu uma visita na propriedade de um dos cursistas, onde foi feita uma discussão prática e teórica sobre o manejo de açaizeiro nativo; o tipo de solos de várzeas; a conservação e características nutricionais desses solos aliado ao regime de entrada e saída constante de água nos terrenos dos cooperados; uma abordagem sobre a sazonalidade da produção de frutos de açaizeiro; e a importância da diversidade de outras espécies na área de cultivo, contrapondo o monocultivo que tem pressão no território sobre o cultivo de açaí.

Analista socioambiental do IEB e coordenadora da ação, Waldileia Rendeiro avalia que “o encontro foi considerado positivo e bastante didático, com reflexões aliadas à importância das boas práticas de manejo, da implantação dos SAFs nos seus lotes produtivos como estratégia de produção de alimento, medicamentos, renda, conservação ambiental e da biodiversidade, abrindo caminhos para qualificar as ações de inclusão socioprodutiva de mulheres prevista no projeto, ressaltando os quintais produtivos discutido na formação como espaço de  grande diversidade ecológica, cuidado com o solo, qualidade de vida, e como um espaço de experimentações”, reflete.