Mais uma aldeia rumo a autossuficiência alimentar

  fevereiro 17, 2020

Plantio de frutas, legumes e verduras, implementação de hortas comunitárias e oficina de biofertilizantes fortalecem a aldeia Canavial, no sul do Amazonas

Os botos cruzando o barco de quem se aproxima da aldeia Canavial pelo lago Uroupiara, afluente do Rio Madeira, é o primeiro sinal de boas-vindas. A paisagem da Terra Indígena (TI) Ipixuna, município de Humaitá (AM), é o típico clichê amazônico: araras pelo céu, micos pelas árvores, cachoeiras exuberantes e peixes fartos depois da pescaria nas águas verdes do lago.

Habitada por cerca de 30 indígenas da etnia Parintintin, ali as mulheres dão visibilidade ao seu papel fundamental na gestão de seu território, apoiando o cacicado de Ednaldo Parintintin. São elas que mobilizam a comunidade para as atividades , orientam o trabalho na roça e organizam os mutirões de plantio dos SAF’s (Sistemas Agroflorestais), estabelecidos pelo planejamento das atividades do Projeto SulAM Indígena, em parceria com a Organização do Povo Indígena Parintintin do Amazonas – OPIPAM, com o IEB e financiado pelo Fundo Amazônia.

Entre os dias 29 de janeiro e 03 de fevereiro aconteceu o terceiro e último mutirão de plantio na aldeia no âmbito do projeto, que visa colocar em prática os conhecimentos tradicionais junto a novas ferramentas e técnicas adquiridas no curso de formação de agentes ambientais indígenas, para promover o bem estar participativo entre todos que ali vivem. O sistema agroecológico vem sendo cultivado há aproximadamente 2 anos e meio e pretende, dentro de alguns anos, fortalecer a base de subsistência da aldeia, que hoje tem nas culturas de açaí, castanha- do-brasil e farinha sua principal fonte de renda e alimentícia.

                                                                                                                                                                                                             

“Esse trabalho que o IEB vem fazendo com a gente é muito importante para os povos indígenas, ele incentiva inclusive as crianças, jovens, idosos. Todo mundo participa e é a forma de a gente cultivar produtos saudáveis pra se alimentar”, diz a agente ambiental Benedita Parintintin.

Defesa natural

O SAF nada mais é que mesclar espécies florestais, agrícolas e frutíferas num mesmo local para que, imitado a natureza, cada planta se desenvolva e gere frutos em simbiose com as outras culturas. Assim, a cada temporada a população colhe e se beneficia de novos produtos em sua cadeia alimentar, que compõem inclusive a merenda das escolas na TI Ipixuna.

Para fortalecer e manter a produção agroecológica longe das pragas, a atividade também contou com uma oficina de biofertilizantes – adubos produzidos a partir de nutrientes orgânicos – como esterco, leite e cinzas. Assim, os participantes aprenderam a produzir calda de cinza e extrato de folha de cinamomo para controle de insetos; a reproduzir microorganismos eficazes – para o estabelecimento do equilíbrio da flora microbiana no solo -, um fertilizante para fornecer nitrogênio para as plantas; além de inseticidas feitos de alho, cebola e cítricos para afastar as formigas das plantações.

“A oficina aproxima e resgata o conhecimento local; eles percebem que para combater a maioria das pragas, não é necessário comprar veneno na cidade com o risco de usar errado, como acontece. A solução está nas plantas que já existem no quintal, e isso faz toda a diferença: nos gastos, na não-contaminação do solo e na produção de um alimento saudável”, conta Carlos Souza, técnico do IEB responsável pela implementação do programa na TI.

Hortas comunitárias

Alface, cheiro verde, cebolinha, couve, pepino, sálvia, pimenta de cheiro e repolho são algumas das hortaliças frescas que os Parintintin da Canavial terão em seus pratos dentro em breve. Seis hortas comunitárias foram implementadas por eles, o que,, diminui a produção de resíduos de embalagens na aldeia (já que deixam de trazer verduras compradas no supermercado), introduz o sistema de compostagem para resíduos sólidos, além de dar funcionalidade a terrenos baldios. Em muitos casos, o excedente da produção é comercializado ou trocado por outros produtos.

A atividade faz parte da implementação direta da PNGATI (Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas) dentro do acordo firmado entre IEB, BNDES/Fundo Amazônia e que contempla, além de outras ações, três mutirões de SAF’s em cada Terra Indígena. Estão participando as TI’s Ipixuna, Nove de Janeiro e Jiahui, todas no município de Humaitá. Também participam as TI’s Apurinã – (aldeias Km 124 e Boca do Acre) no município de Boca do Acre (AM), além da TI Catitu, em Lábrea, (AM).

Fotos e texto base Carlos Souza.