Um mês do assassinato de Bruno e Dom é marcado por ato inter-religioso, em Belém (PA)

  julho 8, 2022

O ato foi organizado por amigos do indigenista Bruno Pereira, que morou em Belém nos últimos anos. Indígenas e lideranças religiosas de diferentes segmentos também participaram.

Um mês se passou desde que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram dados como desaparecidos em Atalaia do Norte, região do Vale do Javari, no Amazonas. Desde aquele dia 5 de junho, seus familiares e amigos de várias regiões do país e do mundo, onde ambos tinham criado vínculos e laços, sofreram momentos de angústia e tristeza. Um desses locais é Belém, cidade de residência de Bruno Pereira nos últimos seis anos.

Em homenagem a ele e a Dom Phillips, para marcando os 30 dias de saudades, os amigos convocaram um ato inter-religioso na capital paraense, no último dia 5 de julho, com a presença de representantes de várias denominações religiosas: judeus, cristãos, de matrizes africanas e indígenas.

Professor Almires Guarani (UFPA) discursando. (Foto: Raphael Castro / IEB)

Em carta, os amigos de Bruno destacaram que “a escalada da violência nos territórios não é recente e não para de aumentar. É contra essa política anti-indígena que Bruno lutou nos últimos quatro anos. As vítimas dessa política genocida são muitas: Cacique Emyra Wayãpi, Paulino Guajajara, Sarapó Ka’apor, Ari Uru-Eu-Wau-Wau e tantos outros engajados na resistência em seus territórios”.

Desde o dia do desaparecimento de Bruno e Dom, os amigos em Belém estão mobilizados para pressionar, primeiro pelas buscas, agora por justiça e para que os crimes no Javari não fiquem impunes. Nesses 30 dias de luto, já foram feitas seis manifestações na cidade, com apoio de professores universitários, estudantes e organizações indígenas.

O ato do dia 5 contou com manifestações religiosas, mas também levantou pautas fundamentais para a defesa da Amazônia, de seus territórios e de seus povos, como a recusa ao marco temporal – tese ruralista que tenta impedir demarcações de terras indígenas no Judiciário e no Legislativo- e contra o genocídio indígena.

Liderança da Terra Indígena Alto Rio Guamá, Walber Tembé ressaltou a importância do respeito à vida dos defensores e defensoras dos territórios. “Nós reconhecemos o esforço e a luta desses dois guerreiros que tombaram, mas nós, juventudes, guerreiros, caciques e anciãos, queremos continuar na luta, queremos viver na ancestralidade de luta. Que a gente possa estar junto em defesa do território e da vida”, destacou a liderança do povo Tembé.

Uma das lideranças do povo Warao, que vive em Belém e Ananindeua, Evelio Mariano também reforçou o apoio dos indígenas na luta por justiça por Dom e Bruno: “Nós estamos aqui apoiando esse ato porque eles lutaram por nossa cultura, nossa terra. Nós apoiamos porque nós, como indígenas, também sofremos essas injustiças. Como eles lutaram pelos indígenas, nós estamos lutando por justiça porque mataram nossos irmãos”.

Avilio Cardona, liderança Warao discursando. (Foto: Raphael Castro / IEB)

Além das homenagens ao indigenista e ao jornalista assassinados, o ato também contou com manifestações em defesa dos direitos dos povos indígenas, da democracia e críticas ao atual governo brasileiro.