IEB amplia uso da metodologia campesino a campesino no curso Entre Castanheiros

  julho 22, 2021

Para o IEB, gente é caminho para a sustentabilidade. E assim, com essa filosofia, começou na última sexta-feira (16/7) o Entre Castanheiros, mais um curso na Plataforma Formar, o nosso ambiente virtual de aprendizagem.

O Entre Castanheiros é fruto da parceria do IEB com o WWF-Brasil e envolve 24 castanheiros e castanheiras da comunidade Barra de São Manoel em um ambiente de reflexão, aprendizagem e troca de conhecimentos, entre si e com castanheiros de outras regiões, sobre a cadeia de valor da castanha-da-amazônia.

  

A Barra é uma comunidade tradicional no município de Apuí-AM, que fica às margens do rio Tapajós. Possui atualmente 50 famílias e cerca de 300 moradores, que vivem da pesca artesanal, da agricultura de subsistência, do extrativismo e do turismo de base comunitária.

Com ações como o manejo dos castanhais e a estruturação de uma unidade primária de beneficiamento na comunidade, o WWF-Brasil vem investindo ao longo dos últimos anos para desenvolver o trabalho da castanha no local. E para colaborar no processo formativo dos extrativistas, surge a ideia do Entre Castanheiros.

Segundo Henrique Santiago, analista de conservação sênior do WWF-Brasil, o curso faz parte de um processo de reestruturação da cadeia produtiva da castanha na Barra e nas comunidades vizinhas

“Com o Entre Castanheiros, a comunidade pode se reapropriar da cadeia produtiva da castanha e, com a safra começando no comecinho do próximo ano, a gente pode se sentir mais preparado para lidar com esse potencial de geração de renda diferenciada com o pré-beneficiamento da castanha”, disse aos cursistas na aula inaugural.

Percurso formativo do Entre Castanheiros

O Entre no nome não é por acaso. Pluralidade, multiplicação do conhecimento, estímulo à formação de redes: seguindo as ideias de Paulo Freire, as dinâmicas do curso são adaptadas de acordo com a realidade local e todos os saberes são valorizados, pautando-se na educação democrática.

“A ideia do curso é promover, por meio do diálogo entre castanheiros, um intercâmbio de experiências e a construção coletiva de conhecimentos sobre a cadeia de valor da castanha”, explica Satya Caldenhof, coordenadora do projeto pelo IEB.

Esse é o cerne da metodologia “campesino a campesino” – ou, no caso da castanha, extrativista a extrativista – que o IEB vem aplicando em uma série de projetos. Nela, o conhecimento é tratado de forma horizontal e os atores locais estão no centro da relação de ensino e aprendizagem.

As atividades iniciais pressupõem a facilitação do diálogo entre extrativistas para que o conhecimento seja trocado e criado em conjunto. A evolução natural desse processo formativo é que parte dos extrativistas se tornem também facilitadores e multiplicadores.

Cursistas do FORMAR Castanha em intercâmbio de experiências promovido em 2017

No Entre Castanheiros, a maior parte dos professores facilitadores de cada aula são castanheiros e castanheiras que já passaram por outras formações do IEB, como o FORMAR e o SEMEAR Castanha, e seguem em um processo de formação continuada. Encontros sobre a importância da organização social, boas práticas de manejo, gestão e comercialização serão facilitados por esses antigos cursistas que são hoje assessores da rede SEMEAR e continuam aprimorando suas habilidades pedagógicas ao mesmo tempo que semeiam boas práticas na cadeia da castanha e os materiais que foram produzidos por eles durante os cursos.

A Rede SEMEAR é fomentada pelo IEB e composta por produtores de castanha dos estados do Amazonas e Rondônia, membros de assessoria técnicas e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que atuam em 14 áreas protegidas.

Por conta da pandemia, as aulas do Entre Castanheiros estão sendo virtuais. E com apenas um computador na Barra e conexão de internet só na base flutuante do ICMBio, o caminho é se adaptar. De um lado da tela, a comunidade que chega de barco ao ponto de encontro, do outro a equipe do IEB, do WWF e da Rede SEMEAR.

    

O curso também prevê o pagamento de bolsas de estudo durante os dois meses de formação. Para recebê-la, os cursistas têm que atender uma série de critérios, especialmente participar das aulas e realizar as tarefas programadas ao longo da formação.

“A gente do IEB entende que está todo mundo tirando um dia da sua roça, da produção da castanha, do dia de pesca, para estar nesse curso. E por conta disso, a gente quer que as pessoas estejam presentes, com condições e sem prejudicar o trabalho. Essa dedicação é super importante e por isso a gente oferece bolsas de estudo”, explica Satya.

O Entre teve um primeiro encontro de apresentação no dia 9 de julho e, na última sexta (16/7) as aulas começaram oficialmente com uma discussão sobre a “História Econômica e Política da Amazônia”.

“O que mais chamou a atenção do nosso grupo foi a época do ciclo da borracha”, contou Lucivaldo dos Santos, que já foi presidente da associação de moradores da Barra. “Na época vieram os nordestinos e se não fosse eles… Eles também foram fundadores aqui da comunidade da Barra de São Manoel”.

Já Elisandro Apiaká refletiu sobre suas raízes e destacou o genocídio dos povos indígenas que segue acontecendo.

“O que mais chamou atenção foi a questão dos indígenas. Existiam milhões de indígenas, e hoje muito pouco. E muitas línguas deixaram de existir. Isso nos chamou atenção”.

Ao fim da aula, o clima de satisfação tomou conta. Maria Imaculada da Silva trouxe a voz da experiência e lembrou: “Antigamente a gente não tinha essa capacidade de assistir e fazer um curso igual ao que estamos fazendo hoje. Eu estou muito feliz por isso!”

Durante os meses de julho e agosto serão mais seis aulas, sendo que a última será um encontro de avaliação, onde um plano de ação coletivo será apresentado e validado. Nele, os cursistas irão descrever os próximos passos do grupo após o término do curso (confira o calendário da formação abaixo).