Gente: Caminho para a Sustentabilidade- Os povos indígenas que transformam

  abril 19, 2023
Povo Tenharim em uma ação de vigilância na Terra Tenharim Marmelos

Povo Tenharim em ação de vigilância na Terra Tenharim Marmelos

No Dia Nacional dos Povos Indígenas, o IEB destaca ações de povos indígenas que promovem a sustentabilidade em suas comunidades na Amazônia brasileira. São agentes ambientais, pesquisadores, agentes de saúde, comunicadores, jovens, mulheres e lideranças, protagonistas em suas comunidades, que atuam na defesa da sustentabilidade e do Bem Viver.

Em 2023, o IEB completa 25 anos de atuação, sempre acreditando que o verdadeiro caminho para a sustentabilidade está no fortalecimento das pessoas e dos processos de organização coletiva e social. Por isso, lançamos a série “Gente: Caminho para a Sustentabilidade”. No mês do Abril Indígena, destacamos a luta dos povos originários na Amazônia brasileira.

Reafirmamos o compromisso de fortalecer esses processos de organização coletiva e social e de apoiar as iniciativas dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na defesa de seus territórios e da sustentabilidade. O trabalho com os povos indígenas é fundamental para alcançarmos um futuro mais justo e equitativo para todas as pessoas e para o planeta.

No estado de Roraima, o IEB atua em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR), promovendo a governança e a gestão territorial e  ambiental das Terras Indígenas em Roraima, além de apoiar o fortalecimento institucional do CIR e promover a governança da PNGATI.

Já no sul do Amazonas, o IEB tem atuado na formação de Agentes Ambientais Indígenas, com apoio de oito associações indígenas parceiras, promovendo intercâmbios formativos e ações com foco na proteção territorial, de forma a garantir a sustentabilidade nas ações de forma reflexiva e inclusiva.

Em meio à luta pelo reconhecimento como povo indígena no Brasil, eles criaram o Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações dessa etnia em deslocamento no Brasil.

No estado do Pará, o IEB desenvolve ações que buscam fortalecer a organização comunitária dos indígenas Warao que vivem na Região Metropolitana de Belém. Recentemente, foi criado o Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações de indígenas refugiados no Brasil. Por meio deste conselho, os Warao têm avançado em ações de saúde, comunicação, artesanato e geração de renda.

AGENTES AMBIENTAIS INDÍGENAS

Os Agentes Ambientais Indígenas (AAI) atuam na gestão territorial e ambiental de suas terras, e o exercício de suas atividades está no âmbito da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI). Seu trabalho envolve a proteção, o manejo e a gestão das terras indígenas, com planejamento e ações de vigilância sempre em parceria com as suas associações de base.

Valter Tenharin (no fundo) em excursão de vigilância na Terra Indígena Tenharim Marmelos (AM)

“O Agente Ambiental faz o trabalho de monitoramento territorial para combater invasões. Fazemos registros para enviar às autoridades governamentais quando vemos os invasores, monitoramento das nossas produções, como do açaí e castanha, realizamos mapeamentos com uso de tecnologias para vermos os limites de nossa terra”, comenta Valter Tenharin, Agente Ambiental Indígena da TI Tenharim Marmelos.

“Ser AAI tem muito a ver com a preservação do nosso território. Tem a ver com as políticas públicas, nossa saúde, plantas, sistemas agroflorestais para a nossa alimentação tradicional. Ser AAI é fazer parte da saúde do nosso planeta, onde protegendo o nosso território estamos contribuindo com a descarbonização do planeta”, afirma Thiago Castelano, povo Parintintin, Agente Ambiental Indígena.

Cabe ao AAI o desenvolvimento, elaboração e implementação de planos de gestão ambiental e territorial, ações de vigilância e monitoramento das terras indígenas; além do estímulo à participação dos povos indígenas no planejamento de ações e políticas públicas de proteção territorial e divulgação de informações sobre a situação ambiental das terras indígenas. 

“O Agente Ambiental Indígena é muito importante no território, pois mobiliza a comunidade. Além disso, pesquisa a comercialização da nossa produção. É uma forma de estarmos trabalhando o território na vigilância. O AAI trouxe muitos pontos positivos para os povos indígenas”, comenta Elda Diarroi, do povo Jiahui, Agente Ambiental e Pesquisadora do Clima.

 

PESQUISADORES INDÍGENAS 

Outro ator que vem ganhando destaque em seus territórios são os pesquisadores (as) indígenas, que coletam informações e multiplicam saberes em seus territórios. Os pesquisadores indígenas são muitas vezes vistos como agentes de mudança em suas próprias comunidades, ajudando a promover a autonomia e o empoderamento dos povos indígenas. 

Cleomar Tenharin, pesquisador indígena e membro Apitipre

No sul do Amazonas, os pesquisadores estão elaborando os protocolos de consulta junto com as suas comunidades e associações de base, nesse documento abordam sobre como querem ser consultados a respeito de grandes empreendimentos que impactam as suas comunidades. “O pesquisador é um multiplicador junto a comunidade, ele coleta e repassa informações para buscar melhorias junto ao seu povo. No nosso protocolo de consulta da Terra Indígena Igarapé Preto abordamos a nossa cultura, os impactos da mineração no nosso território, depois da Paranapanema, os efeitos sociais. Nele explicamos como o governo deve nos consultar sobre qualquer empreendimento”, comenta Cleomar Tenharin, pesquisador indígena e membro da Associação do Povo Indígena Tenharin do Igarapé Preto (Apitipre).

 

PESQUISADORAS DO CLIMA

Além dos protocolos de consulta- que são importantes instrumentos de incidência política- que os povos indígenas que vivem no âmbito da BR-319 estão escrevendo, um grupo de mulheres dos povos: Juma, Jiahui, Mura, Tenharim, Parintintin, Apurinã e Ticuna se articula para produzir pesquisas sobre o monitoramento das mudanças climáticas em seus territórios, são as Pesquisadoras do Clima.

Kunawe Juma é uma das 29 mulheres que participam do projeto “Pesquisadoras do Clima”

Com um novo jeito de trocas de saberes: na base do afeto e no intercâmbio de experiências entre mulheres indígenas, o que tem contribuído para a consolidação de uma rede feminina engajada e resiliente, as Pesquisadoras do Clima têm coletado informações e sugerindo soluções de enfrentamento às mudanças climáticas. 

“Somos nós – mulheres indígenas – que sentimos os efeitos das mudanças climáticas, como as mudanças nos fluxos das águas, do roçado, dos peixes, dentre outros. Somos nós que estamos na linha de frente! É importante que todos possam ouvir a nossa voz, o nosso chamado, para que os nossos filhos e netos não passem por tudo que estamos vivendo agora”, diz Kunawe Juma, da TI Juma, Pesquisadora do Clima.

COMUNICAÇÃO INDÍGENA

A comunicação indígena tem se mostrado uma ferramenta de luta estratégica dos povos indígenas. Isso porque, através dessa prática, os povos originários podem fazer ouvir suas vozes e suas reivindicações, além de divulgar suas culturas e tradições.

“O Dia dos Povos Indígenas é uma data para falarmos da nossa cultura, trabalho e tradições, que são muito importantes para a gente, desde os nossos ancestrais da Venezuela. Estamos muito orgulhosos da nossa história”, afirma a comunicadora indígena, Isneiris Nunez, do povo Warao , que tem utilizado a comunicação para dar visibilidade a luta do seu povo no Brasil. 

Os povos indígenas têm enfrentado muitos desafios na defesa de seus direitos e de suas terras. Assim, a comunicação indígena tem sido uma importante estratégia de resistência e de luta contra a discriminação, o preconceito e a exploração. Ela permite que os povos indígenas possam se organizar e se mobilizar em torno de causas comuns, além de sensibilizar a opinião pública e mobilizar aliados em todo o mundo.

“A comunicação é fundamental para dar visibilidade às nossas lutas e buscar as garantias de nossos direitos. Além disso, ela é essencial para a construção de pensamentos e para a transmissão do que vemos e sentimos, não apenas para o nosso povo, mas para todos”, diz Mabel Fernandes Apurinã, comunicadora indígena e membro da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP).

 

LIDERANÇAS INDÍGENAS REFUGIADAS

Os Warao iniciaram, desde 2016, um movimento massivo de migração forçada para o Brasil e outros países da América do Sul. Atualmente estão presentes em todas as regiões brasileiras, concentrando-se principalmente na Amazônia. No estado do Pará vivem hoje, nas cidades de Belém e Ananindeua, mais de 700 indígenas Warao, em 10 comunidades.

Em 2021, o IEB iniciou um trabalho que visava contribuir à inclusão produtiva desses indígenas, com apoio ao artesanato e à empregabilidade, e ao fortalecimento comunitário e de lideranças Warao por meio de formações. O trabalho também avançou para ações de comunicação e acesso à saúde.

Em meio à luta pelo reconhecimento como povo indígena no Brasil, eles criaram o Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações dessa etnia em deslocamento no Brasil. Atualmente, as ações do IEB são focadas em fortalecer essa instituição representativa e a interlocução entre os indígenas, os órgãos públicos e movimentos sociais.

Texto, reportagem e edição:

Luana Luizy
Miguel Haru
Raphael Castro