Gente: Caminho para a Sustentabilidade- Os povos indígenas que transformam
Povo Tenharim em ação de vigilância na Terra Tenharim Marmelos
No Dia Nacional dos Povos Indígenas, o IEB destaca ações de povos indígenas que promovem a sustentabilidade em suas comunidades na Amazônia brasileira. São agentes ambientais, pesquisadores, agentes de saúde, comunicadores, jovens, mulheres e lideranças, protagonistas em suas comunidades, que atuam na defesa da sustentabilidade e do Bem Viver.
Em 2023, o IEB completa 25 anos de atuação, sempre acreditando que o verdadeiro caminho para a sustentabilidade está no fortalecimento das pessoas e dos processos de organização coletiva e social. Por isso, lançamos a série “Gente: Caminho para a Sustentabilidade”. No mês do Abril Indígena, destacamos a luta dos povos originários na Amazônia brasileira.
Reafirmamos o compromisso de fortalecer esses processos de organização coletiva e social e de apoiar as iniciativas dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na defesa de seus territórios e da sustentabilidade. O trabalho com os povos indígenas é fundamental para alcançarmos um futuro mais justo e equitativo para todas as pessoas e para o planeta.
No estado de Roraima, o IEB atua em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR), promovendo a governança e a gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas em Roraima, além de apoiar o fortalecimento institucional do CIR e promover a governança da PNGATI.
Já no sul do Amazonas, o IEB tem atuado na formação de Agentes Ambientais Indígenas, com apoio de oito associações indígenas parceiras, promovendo intercâmbios formativos e ações com foco na proteção territorial, de forma a garantir a sustentabilidade nas ações de forma reflexiva e inclusiva.
No estado do Pará, o IEB desenvolve ações que buscam fortalecer a organização comunitária dos indígenas Warao que vivem na Região Metropolitana de Belém. Recentemente, foi criado o Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações de indígenas refugiados no Brasil. Por meio deste conselho, os Warao têm avançado em ações de saúde, comunicação, artesanato e geração de renda.
AGENTES AMBIENTAIS INDÍGENAS
Os Agentes Ambientais Indígenas (AAI) atuam na gestão territorial e ambiental de suas terras, e o exercício de suas atividades está no âmbito da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI). Seu trabalho envolve a proteção, o manejo e a gestão das terras indígenas, com planejamento e ações de vigilância sempre em parceria com as suas associações de base.
“O Agente Ambiental faz o trabalho de monitoramento territorial para combater invasões. Fazemos registros para enviar às autoridades governamentais quando vemos os invasores, monitoramento das nossas produções, como do açaí e castanha, realizamos mapeamentos com uso de tecnologias para vermos os limites de nossa terra”, comenta Valter Tenharin, Agente Ambiental Indígena da TI Tenharim Marmelos.
“Ser AAI tem muito a ver com a preservação do nosso território. Tem a ver com as políticas públicas, nossa saúde, plantas, sistemas agroflorestais para a nossa alimentação tradicional. Ser AAI é fazer parte da saúde do nosso planeta, onde protegendo o nosso território estamos contribuindo com a descarbonização do planeta”, afirma Thiago Castelano, povo Parintintin, Agente Ambiental Indígena.
Cabe ao AAI o desenvolvimento, elaboração e implementação de planos de gestão ambiental e territorial, ações de vigilância e monitoramento das terras indígenas; além do estímulo à participação dos povos indígenas no planejamento de ações e políticas públicas de proteção territorial e divulgação de informações sobre a situação ambiental das terras indígenas.
“O Agente Ambiental Indígena é muito importante no território, pois mobiliza a comunidade. Além disso, pesquisa a comercialização da nossa produção. É uma forma de estarmos trabalhando o território na vigilância. O AAI trouxe muitos pontos positivos para os povos indígenas”, comenta Elda Diarroi, do povo Jiahui, Agente Ambiental e Pesquisadora do Clima.
PESQUISADORES INDÍGENAS
Outro ator que vem ganhando destaque em seus territórios são os pesquisadores (as) indígenas, que coletam informações e multiplicam saberes em seus territórios. Os pesquisadores indígenas são muitas vezes vistos como agentes de mudança em suas próprias comunidades, ajudando a promover a autonomia e o empoderamento dos povos indígenas.
No sul do Amazonas, os pesquisadores estão elaborando os protocolos de consulta junto com as suas comunidades e associações de base, nesse documento abordam sobre como querem ser consultados a respeito de grandes empreendimentos que impactam as suas comunidades. “O pesquisador é um multiplicador junto a comunidade, ele coleta e repassa informações para buscar melhorias junto ao seu povo. No nosso protocolo de consulta da Terra Indígena Igarapé Preto abordamos a nossa cultura, os impactos da mineração no nosso território, depois da Paranapanema, os efeitos sociais. Nele explicamos como o governo deve nos consultar sobre qualquer empreendimento”, comenta Cleomar Tenharin, pesquisador indígena e membro da Associação do Povo Indígena Tenharin do Igarapé Preto (Apitipre).
PESQUISADORAS DO CLIMA
Além dos protocolos de consulta- que são importantes instrumentos de incidência política- que os povos indígenas que vivem no âmbito da BR-319 estão escrevendo, um grupo de mulheres dos povos: Juma, Jiahui, Mura, Tenharim, Parintintin, Apurinã e Ticuna se articula para produzir pesquisas sobre o monitoramento das mudanças climáticas em seus territórios, são as Pesquisadoras do Clima.
Com um novo jeito de trocas de saberes: na base do afeto e no intercâmbio de experiências entre mulheres indígenas, o que tem contribuído para a consolidação de uma rede feminina engajada e resiliente, as Pesquisadoras do Clima têm coletado informações e sugerindo soluções de enfrentamento às mudanças climáticas.
“Somos nós – mulheres indígenas – que sentimos os efeitos das mudanças climáticas, como as mudanças nos fluxos das águas, do roçado, dos peixes, dentre outros. Somos nós que estamos na linha de frente! É importante que todos possam ouvir a nossa voz, o nosso chamado, para que os nossos filhos e netos não passem por tudo que estamos vivendo agora”, diz Kunawe Juma, da TI Juma, Pesquisadora do Clima.
COMUNICAÇÃO INDÍGENA
A comunicação indígena tem se mostrado uma ferramenta de luta estratégica dos povos indígenas. Isso porque, através dessa prática, os povos originários podem fazer ouvir suas vozes e suas reivindicações, além de divulgar suas culturas e tradições.
“O Dia dos Povos Indígenas é uma data para falarmos da nossa cultura, trabalho e tradições, que são muito importantes para a gente, desde os nossos ancestrais da Venezuela. Estamos muito orgulhosos da nossa história”, afirma a comunicadora indígena, Isneiris Nunez, do povo Warao , que tem utilizado a comunicação para dar visibilidade a luta do seu povo no Brasil.
Os povos indígenas têm enfrentado muitos desafios na defesa de seus direitos e de suas terras. Assim, a comunicação indígena tem sido uma importante estratégia de resistência e de luta contra a discriminação, o preconceito e a exploração. Ela permite que os povos indígenas possam se organizar e se mobilizar em torno de causas comuns, além de sensibilizar a opinião pública e mobilizar aliados em todo o mundo.
“A comunicação é fundamental para dar visibilidade às nossas lutas e buscar as garantias de nossos direitos. Além disso, ela é essencial para a construção de pensamentos e para a transmissão do que vemos e sentimos, não apenas para o nosso povo, mas para todos”, diz Mabel Fernandes Apurinã, comunicadora indígena e membro da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP).
LIDERANÇAS INDÍGENAS REFUGIADAS
Os Warao iniciaram, desde 2016, um movimento massivo de migração forçada para o Brasil e outros países da América do Sul. Atualmente estão presentes em todas as regiões brasileiras, concentrando-se principalmente na Amazônia. No estado do Pará vivem hoje, nas cidades de Belém e Ananindeua, mais de 700 indígenas Warao, em 10 comunidades.
Em 2021, o IEB iniciou um trabalho que visava contribuir à inclusão produtiva desses indígenas, com apoio ao artesanato e à empregabilidade, e ao fortalecimento comunitário e de lideranças Warao por meio de formações. O trabalho também avançou para ações de comunicação e acesso à saúde.
Em meio à luta pelo reconhecimento como povo indígena no Brasil, eles criaram o Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações dessa etnia em deslocamento no Brasil. Atualmente, as ações do IEB são focadas em fortalecer essa instituição representativa e a interlocução entre os indígenas, os órgãos públicos e movimentos sociais.
Texto, reportagem e edição:
Luana Luizy
Miguel Haru
Raphael Castro