Entre Parentas: Carta das Mulheres Indígenas do sul do Amazonas em defesa do Bem Viver, da diversidade e da vida no planeta

  setembro 13, 2023

Nós, mulheres indígenas do sul do Amazonas, reunidas na 3° Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, entre os dias 11 a 13 de setembro, articuladas por objetivos compartilhados: a luta pelo bem viver nos nossos territórios e a busca por uma participação ativa nos processos relacionados às questões básicas, como educação e saúde, gestão do território, economia nas aldeias, segurança de nossas casas e famílias. Moramos em dezenas de aldeias, nas florestas e margens de igarapés e rios que formam os rios Madeira e Purus. Somos uma rede de mulheres lideranças do Sul do Amazonas, Apurinã, Tenharim, Parintintin, Jiahui, Mura, Pirahã, Paumari e Juma.

Estamos juntas desde 2020, quando os encontros de formação e de implementação de projetos comunitários nos aproximou e criamos a rede ‘Entre Parentas’. Desde lá, juntas, desenvolvemos e participamos de processos de formação de lideranças mulheres, jovens e adultas, que atuam diretamente nas aldeias e nas esferas públicas. Com a cooperação de parceiros, lideranças e nossas comunidades, temos abordados temas diversos, que vão desde a gestão de projetos, processos de planejamento e construção de iniciativas, e incidência política.  Também estamos gerando conhecimentos e mostrando que nossa atuação é fundamental para fazer a diferença em nossos territórios.

A região onde vivemos é alvo de desmatamentos, perda da biodiversidade, incêndios, invasões e grilagens de terra, e todo tipo de desastre que atinge aquela região da Amazônia, considerada umas das mais críticas da Amazônia. Atualmente estamos sendo seriamente impactadas pela emergência climática que afetando nossos roçados, os bichos, as águas.

São muitos os desafios e estamos dando nossa contribuição para superá-los. Junto com nossas comunidades, estamos construindo soluções para os grandes desafios na nossa região e participando ativamente nas decisões e processos que nos afetam. Nossas terras indígenas, nossas aldeias e famílias estão sustentadas nas ações que realizamos e nos compromissos que temos com nossos povos. Zelamos pela saúde e educação, e pelo cuidado com o território; cuidamos de nossa economia tradicional, representamos nossas comunidades e nossas organizações de base. Estamos implementando projetos produtivos comunitários, planos de gestão e atividades de proteção.

Somos protagonistas das transformações desenvolvendo ações sustentáveis que representam soluções efetivas para os problemas que nos atingem e juntas, estamos alcançando significativos resultados, dentre os quais, a valorização do papel das mulheres indígenas na gestão de seus territórios e nas economias da floresta; a participação ativa nas pautas que afetam nossas vidas. Nossa atuação como pesquisadoras têm o potencial de monitorar os efeitos das mudanças climáticas nos territórios a partir de nosso olhar cotidiano sobre essas mudanças.

Com isso podemos dar visibilidade às soluções que estamos desenvolvendo nos territórios e mobilizar os territórios para enfrentar nossas vulnerabilidades. Buscamos a valorização do olhar das mulheres indígenas sobre esses efeitos e das soluções que propomos e implementamos para enfrentamento os desafios, baseada sobretudo na valorização dos conhecimentos tradicionais e na promoção do bem viver a partir do cuidado e do afeto com as pessoas, com a diversidade, os modos de vida tradicionais e o futuro do planeta.

Gostaríamos do apoio e de trabalhar junto com órgãos de governo e parceiros e academia, que reconhecemos como atores importantes para fortalecer nossas ações e para desenvolver e fortalecer a rede. Nesse sentido, apresentamos um conjunto de demandas estratégicas para o fortalecimento de nossas capacidades, habilidades e competências locais.

  1. Formação continuada de mulheres em diversas áreas (agentes ambientais, comunicadoras, gestoras, lideranças)
  2. Apoio às nossas atividades produtivas, de segurança alimentar e geração de renda
  3. Fortalecimento da rede Entre Parentas, valorizando nosso conhecimento tradicional, o papel das mulheres indígenas na gestão territorial, no enfrentamento às mudanças climáticas e na proposição de soluções para o planeta
  4. Apoio para incidência política e participação em espaços de discussão e decisão sobre pautas que nos afetem.