Encontro em Macapá debateu a participação feminina em cadeias da sociobiodiversidade

  maio 24, 2023

Nos dias 10 e 11 de maio, o auditório da Embrapa Amapá acolheu o II Encontro de Mulheres Agroextrativistas, evento que reuniu representantes de diferentes coletivos dos estados do Pará e Amapá para dialogar sobre os desafios e oportunidades para a inclusão socioprodutiva de mulheres.

Nos relatos do cotidiano e no resgate das trajetórias, surgiram reflexões sobre estratégias de produção e comercialização de produtos da sociobiodiversidade, organização social e política, e sobre os direitos de meninas e mulheres.

Fizemos primeiramente um resgate da discussão do primeiro encontro, realizado em dezembro, onde buscamos identificar e estimular a cooperação entre esses grupos. A partir disso, aprofundamos um pouco mais sobre os desafios que essas iniciativas enfrentam no campo da produção, comercialização e organizacional , abordando também as possibilidades de ações. Construímos coletivamente uma estrutura mínima de funcionamento dessa articulação, cuja missão se volta, inicialmente,  à mobilização, intercâmbio e fortalecimento desses grupos dos coletivos de mulheres”, conta Waldiléia Rendeiro, coordenadora do encontro  e analista socioambiental do Instituto Internacional do Brasil (IEB).

Enquanto comemorava o fato da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ter, pela primeira vez em 50 anos de história, uma presidente mulher, Ana Euler — pesquisadora da instituição e uma das facilitadoras do encontro — destacou a importância da articulação para a estimular a inclusão socioprodutiva.

A gente tem sido muito demandado especificamente para esse objetivo de gênero. Esse é um tema transversal, então a gente começa a sair de algumas cadeias como de plantas medicinais e de óleos, que são tradicionalmente e historicamente femininas, para começar a prestar atenção e tentar tirar da invisibilidade as mulheres de tantas outras cadeias”, comentou a pesquisadora.

Nesse sentido, a partir de uma influência inclusive da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, conhecida como FAO, surge o Observatório das Mulheres Rurais dentro da Embrapa, que se propõe inicialmente a organizar e sistematizar as informações em torno desse tema. Eu vejo grandes oportunidades de conectar essa rede de mulheres com o Observatório e com a rede de pesquisadoras e pesquisadores da Embrapa que trabalham com o tema de gênero”, complementou Euler.

Pesquisadora e nova diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler destaca a relevância das mulheres nas cadeias da sociobiodiversidade

O encontro reuniu cerca de 40 pessoas de 20 organizações de base, como a agroextrativista Maria Creusa Ribeiro, da comunidade Por Ti Meu Deus, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, e uma das integrantes da Associação de Mulheres do Campo e da Cidade (Emanuela), em Porto de Moz, no Pará.

O nosso foco agora é dar visibilidade aos produtos das mulheres agroextrativistas, a gente sabe que o governo fala muito desse sistema de produção da biodiversidade, e as mulheres vêm se destacando nesse campo. Porém a gente percebe que ainda há uma invisibilidade em relação à produção feita por esse grupo. Na diversificação da cadeia produtiva a mulher aparece como um destaque principal dentro desse campo da produção sustentável, seja na questão do manejo florestal, manejo da castanha, do óleo ou na fabricação de massa e de biojoias”, reflete Maria Creusa.  

Maria Creusa, à esquerda, defende maior visibilidade ao trabalho desempenhado por mulheres em diferentes cadeias da sociobiodiversidade

Durante dinâmica focada em organização social e política, Deurizete Cardoso, representante da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, situada no Amapá, compartilhou as dificuldades que o grupo enfrentou para acessar mercados institucionais  como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A gente teve  dificuldades a ter acesso a essas políticas, mas quando a gente vai para dentro desse processo de ter um grupo em rede, para poder lutar não só pelos benefícios de uma, mas em relação a todas, acho que isso [o acesso às políticas públicas] se torna mais viável”, afirma Deurizete.

Formação continuada – No dia 12 de maio, o encontro seguiu para o Museu Sacaca, onde foi realizado um nivelamento sobre FORMAR Gênero e Gestão de Empreendimentos, uma das ações do projeto “Semeando a Sustentabilidade”, iniciativa coordenada pelo Instituto Internacional do Brasil (IEB), com investimento do Fundo JBS pela Amazônia e da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA); e parceria institucional do Aliança Bioversity/CIAT e da cooperativa dos produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai).

O projeto busca fortalecer empreendimentos comunitários e coletivos de mulheres agroextrativistas do Amapá, por meio de formação continuada com foco em sistemas de gestão para processos produtivos, de governança territorial e de empreendedorismo. Dez empreendimentos da articulação serão selecionados para participar da formação continuada, prevista para iniciar em junho.

Para Denyse Mello, Gerente de Projetos da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), “é essencial a participação em arranjos institucionais como este, que objetivam investir no empoderamento das mulheres e na visibilidade de seu papel no desenvolvimento socioeconômico e ambiental na Amazônia. Nesse sentido, estamos contentes em contribuir com as atividades dos demais parceiros envolvidos na iniciativa. O foco do aporte da PPA é na qualificação das capacidades de gestão de empreendimentos femininos, por meio do projeto Semeando a Sustentabilidade.”

Assistente de projetos da Amazonbai,  Jaqueline Silva comemora os resultados iniciais da formação continuada que tem sido implementada no território. “O FORMAR Gênero encorajou alguns jovens e mulheres a comporem a direção de uma organização no Bailique, a ACTB, e garantirá a formação contínua desse público, o que resultará em discussões mais valorosas e melhores resultados na gestão comunitária e consequentemente nas suas organizações”, afirmou.

II Encontro de Mulheres Agroextrativistas – O evento marcou o encerramento do projeto “Articulação em Rede”, apoiado pelo Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar (OMFCF); e o início do projeto “Semeando a Sustentabilidade”, iniciativas coordenadas pelo IEB.

O encontro contou com a parceria local da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e da Embrapa Amapá, instituições que vêm implementando agendas para o fortalecimento de economias comunitárias inclusivas.

No dia 12 de maio, ainda como parte da programação do encontro, o Museu Sacaca também recebeu uma feira de saberes e sabores, com a exposição e comercialização de produtos como tomates, bombons, óleos vegetais, biscoitos, cosméticos e acessórios produzidos em seus territórios.

Produtos feito por mulheres de coletivos dos estados do Pará e Amapá

Próximos passos – A articulação seguirá uma agenda de reuniões on-line para aprofundar as reflexões abordadas no encontro e para fortalecer seus mecanismos de governança.