Em meio a pandemia IEB mantém apoio às comunidades

  maio 26, 2020

Produção de máscaras é um dos focos do auxílio

Desde o início da pandemia o IEB adaptou-se a fim de seguir as orientações das autoridades de saúde, a principal consequência disso foi a paralisação do conjunto de suas ações em campo, ou seja, todas as atividades presenciais que reunissem pessoas.  Ao mesmo tempo foi mantido estreito diálogo com as pessoas, grupos e comunidades dos projetos, como forma de manter a mobilização social, orientar em relação aos cuidados à pandemia, mas também identificar formas de apoiá-las (os).

Mesmo distante fisicamente das comunidades, o Instituto tem atuado em diferentes frentes. Estão em andamento atividades de assessoria às organizações comunitárias, a disponibilização de recursos para aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) e a realização de campanha de financiamento coletivo para fortalecer as ações de combate ao Coronavírus entre extrativistas e agricultores familiares.

Números

Os estados do Amapá e Pará são foco das ações do IEB. Ambos possuem mais de 30 mil casos confirmados da Covid19, com a ocorrência de cerca de 2 500 óbitos causados pelo vírus (dados coletados no dia 26 de maio de 2020). As capitais concentram a maioria dos números, contudo, o avanço para municípios menos populosos, onde residem comunidades isoladas, preocupa pela carência em infraestrutura de saúde pública e pelo impacto na economia dependente do extrativismo e da agricultura familiar.

Em que pese possuírem dinâmicas próprias e estarem afastadas fisicamente dos focos de contaminação, a rotina de sobrevivência destas comunidades depende do acesso a bens e serviços encontrados em locais mais estruturados. Ir a uma agência bancária para sacar o auxílio emergencial ou comprar suprimentos básicos, como, por exemplo, materiais de higiene, pode resultar em uma contaminação individual que, sem as devidas medidas de proteção, se espalhará para a comunidade. 

No Amapá, a capital do estado registra mais de três mil casos de contaminação por Covid19 e cerca de 100 mortes provocada pelo vírus. Os dados preocupam moradores do arquipélago do Bailique, distante cerca de 160 quilômetros de Macapá e uma das referências no estado no cultivo de açaí. No município de Itaubal (AP), no território conhecido como Beira Amazonas, os números oficiais indicam dezenove casos de contaminação. Os esforços do IEB e de organizações locais é atuar para que a situação não se agrave.   

“Em todos os municípios do Amapá existem casos positivos de coronavírus, o que pode indicar o crescimento da contaminação na área rural do estado.  Com a safra do Açaí se intensificando, esse contágio pode se agravar devido o tráfego de pessoas, entre o arquipélago (Bailique) e a capital. Outro agravante são as precárias condições de atendimento à saúde. Por isso o trabalho de prevenção, com a distribuição de máscaras, por exemplo, é fundamental”, comenta a analista socioambiental do IEB, Ruth Corrêa.

A preocupação do IEB também é compartilhada pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). “Existe uma certa coincidência em relação ao grau de letalidade da Covid19 e o modo simples das comunidades”, comenta o presidente do CNS, Joaquim Belo após visitar comunidades isoladas no Pará e Amapá. Para ele o apoio a esses grupos é essencial e deve ser feito com cuidado.

“O mais seguro seria que o apoio chegasse às comunidades em grupos pequenos. Caso ele ocorra avalio que é necessário a construção de um protocolo básico [prevenção ao contágio] para a atuação da equipe responsável para levar o auxílio. Com essa ação, no mínimo, evitaríamos que as comunidades se aglomerem nas áreas urbanas”, ressalta Joaquim.

O Pará concentra a maior parte das ações de apoio do IEB às comunidades isoladas. Um dos municípios atendidos é Porto de Moz, sudoeste do estado, onde está localizada a Reserva Extrativista (Resex) Verde Para Sempre. A comunidade mais próxima da sede municipal fica a duas horas de barco. O isolamento é uma contingência momentânea ao vírus, pois o município registra 90 casos de contaminação e cinco mortes provocadas pela pandemia. As operações de manejo florestal comunitário estão paradas. Caso as comunidades não consigam operacionalizar a safra de 2020 haverá um prejuízo de cerca de R$ 1,3 milhões, afetando mais de 200 famílias. 

No arquipélago do Marajó, o munícipio de Portel (PA) registra quase 180 exames positivos para a Covid19 – o vírus já vitimou 18 pessoas. O município é base de apoio para a comunidade de Santo Ezequiel Moreno que está a uma hora de barco da sede. A liderança comunitária, Teofro Lacerda, relata que está com dificuldade de escoar a produção. Tem evitado a ida a cidade e o gestor público, que poderia comprar a produção da agricultura familiar para confecção de cestas básicas, não tem apoiado a comunidade.

O Açaí é a base econômica de Santo Ezequiel Moreno e das demais comunidades marajoaras. “A safra ainda não começou, mas a previsão é que ela seja produtiva. Esperamos que esse momento passe logo, pois prevemos uma perda grande de rendimentos caso nada se altere”, indica Lacerda. 

A região conhecida como o nordeste paraense é a mais próxima da capital, Belém. Composta por 49 municípios têm na agricultura a base econômica de subsistência das famílias. Dos dez municípios com mais casos de contaminação no estado, três estão nessa região. Castanhal, Bragança e Abaetetuba, somando 1747 casos e 139 óbitos. Uma das organizações que encaram esse desafio no território é a Rede Bragantina de Economia Solidária (RBES).  

“Estamos atuando com vários parceiros para apoiar as pessoas mais empobrecidas e vulneráveis nesta crise”, comenta a coordenadora da RBES, Nazaré Reis. Ela reforça que o apoio na região se estrutura a partir de diferentes estratégias. “Na Associação dos Agricultores Familiares Quilombolas da Pimenteira, grupo de mulheres estão produzindo xarope e pomadas. Elas doam esses produtos e plantas medicinais para fazer chá e banhos de cheiros no quilombo e nas comunidades do entorno”, conta Nazaré. 

Máscaras

Uma forma encontrada pelo IEB de continuar atuando neste contexto de pandemia junto a estes diferentes territórios, foi o fomento à confecção de máscaras para o uso nas comunidades. Item obrigatório nesse cenário de pandemia, o utensílio é um Equipamento de Proteção Individual recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Sua função é impedir que pessoas infectadas levem o vírus adiante, contaminando outras pessoas e locais. A boca e o nariz protegidos evitam que fluídos entrem em contato com objetos e o ser humano, limitando a proliferação do vírus. O apoio promovido pelo IEB permitiu a produção de mais de três mil máscaras com a participação de grupos de mulheres de comunidades no Pará e Amapá.

Além disso, o fomento à produção das máscaras pelos grupos de mulheres locais proporciona um incremento na renda para essas famílias que tiveram as atividades de produção agroextrativistas prejudicadas por causa da pandemia.

Beira Amazonas

As participantes do projeto “Mulheres e Cadeias produtivas no Amapá” estão entre os grupos apoiados pelo Instituto.  Nas comunidades Nossa Senhora de Nazaré e São Tomé, localizadas no município de Itaubal, as mulheres que sabem costurar se organizaram e foram estimuladas a produzir máscaras.  Foram confeccionadas 1 mil e o coletivo segue trabalhando com uma meta de 1400 unidades.

As máscaras serão distribuídas para atender cerca de 150 famílias de extrativistas, divididas entre os territórios do Beiras Amazonas e Bailique. Todas as famílias são envolvidas nas atividades de parceria entre o IEB, Associação da Escola Família Agroecológica do Macacoari e a Amazonbai.

“Essa é uma oportunidade de gerar uma renda extra, além de mostrar que somos capazes de fazer a diferença e reafirmar nosso compromisso com a comunidade, as pessoas daqui gostaram da iniciativa e estão nos dando apoio”, afirma a moradora da comunidade São Tomé, Gerciane Borges, responsável por um dos quatro grupos de produção.

Verde para Sempre

A confecção de máscaras no Pará é viabilizada com apoio do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar (OMFCF). Na Resex Verde Para Sempre já foram produzidas 400 – todas higienizadas e guardadas em embalagens adequadas.  A partir do 26 de maio, quando finalizar o período de paralisação [lockdown], as máscaras serão distribuídas nas comunidades dos rios Acaraí, Jaurucu, Guajará, Tuiuí e Xingu.

 

A presidente do Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, Edilene da Silva, conta que a pandemia já os afetou, mas a solidariedade comunitária tem se mantido.

“Tenho casos da Covid19 na família e em todo nosso município, estamos tentando nos equilibrar pra poder ajudar da maneira que for possível. Já preparamos a lista de entregas, aguardamos passar o período de paralisação, uma medida bem amarga, mas para o bem de todos, então a gente precisa colaborar.”

Marajó

A comunidade Santo Ezequiel Moreno já confeccionou 1200 máscaras que serão doadas ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Portel e também distribuídas nas comunidades na região do Acuti Pereira. O apoio financeiro do IEB viabilizaria a confecção de 600 máscaras. Esse número duplicou, tendo em vista que a comunidade somou ao recurso doado pelo IEB recursos do Fundo Solidário Açaí, uma iniciativa da própria comunidade . O Instituto Federal do Pará– Campus Breves também contribuiu com a empreita, cedendo maquinas de costuras para impulsionar o trabalho e aumentar a produção das mulheres.

“Essa iniciativa veio num momento muito bom porque o povo do nosso município está sendo abandonado, não tivemos nenhum apoio do poder público para fazer esse tipo de ação nas comunidades. Tampouco para nos orientar de como se defender do vírus. As mulheres comunitárias estão se empenhando na produção das máscaras, mesmo sem as máquinas adequadas. Agradecemos muito o apoio”, comenta a liderança comunitária, Teofro Lacerda. 

Nordeste Paraense

A Associação de Mulheres Olímpia da Luz (AMOL) junto com associações quilombolas dos municípios de Santa Luzia do Pará e Capitão Poço iniciaram a confecção de máscaras para os agricultores (as). Contudo a produção parou por falta de matéria-prima. Articulado com a Rede Bragantina o OMFCF viabilizou recursos para suprir a necessidade. O resultado desse apoio foi a confecção de 500 máscaras para serem distribuídas entre 12 comunidades da zona rural daqueles municípios que hoje somam cerca de 200 casos e quatorze mortes por Coronavírus.

As ações no nordeste paraense promovidas pela RBES e seus parceiros também incentiva o consumo e a produção de alimentos regionais e plantas medicinais. Na avaliação da coordenadora da RBES nesse momento há uma procura relevante por mel, própolis, açafrão, gengibre, alho, dentre outros produtos que favorecem a imunidade. “O aumento da demanda desses itens pode resultar em desdobramentos positivos no trabalho de fortalecimento da agroecologia no território do nordeste paraense” comenta Nazaré.  

Campanha

Por meio do OMFCF e suas 40 instituições, o IEB, o CNS e organizações sociais de base comunitária com atuação na região Norte, lançaram uma campanha para ampliar as ações de combate ao coronavírus entre agricultores (as) e extrativistas.  

A iniciativa chamada “Proteção para as populações amazônicas” busca arrecadar recursos que permitam a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) assim como seguir apoiando os coletivos de mulheres que estão confeccionando máscaras para extrativistas e agricultores (as) familiares.  O foco é arrecadar R$ 30 mil.

Para mais informações e resultados da campanha acesse observatoriomfcf.org.br ou entre em contato por e-mail, [email protected] E caso queira fazer uma doação para a campanha acesse o site benfeitoria.com/protecaoamazonia, onde há orientações de como proceder para viabilizar seu apoio.