Em Belém (PA), artesãs de 7 etnias apresentam propostas para fortalecimento do artesanato indígena

  novembro 22, 2023

Carta foi entregue durante seminário que marcou o encerramento de um processo formativo focado em gestão de empreendimentos coletivos e incidência política

Melhorias no acesso à matéria prima, capacitações técnicas e mais oportunidades de comercialização foram algumas das pautas apresentadas por artesãs e artesãos indígenas durante o seminário “Artesanato Indígena – Tecendo estratégias para garantia de direitos”, realizado na tarde desta terça-feira (21), no gabinete da prefeitura de Belém.

Iniciativa do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em parceria com a Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero — financiada pela União Europeia —, e apoio da Coordenação Antirracista de Belém (Coant), o seminário marcou o encerramento do “Formar Artesãs Indígenas”, processo formativo que reuniu 20 indígenas das etnias Warao, Tupinambá, Marajoara, Hixkaryana, Arapiuns, Guajajara e Galibi-Mawormo para fortalecer capacidades e incidência política voltada ao artesanato indígena.

Além das artesãs, o evento contou com a presença do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e de representantes da Universidade da Amazônia (Unama), das secretarias municipais de Economia (Secon), de Educação (Semec), de Meio Ambiente (Semma), de Turismo (BelemTur), da Coordenação Antirracista de Belém (Coant), do Banco do Povo, do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) e das secretarias estaduais de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) e dos Povos Indígenas (Sepi).

A programação iniciou com canto indígena, seguido da apresentação das principais cadeias de valor de matérias primas mapeadas durante o curso — morototó, buriti, miçanga, pintura e açaí. Ao falar sobre o panorama do que foi discutido no curso, Carla Silva abordou a necessidade de sensibilização.

“É necessário compreender a relação que se forma em torno da relação de consumo, o tempo, o valor do material. Estimular o reconhecimento é uma forma de contribuir para tornar visível à sociedade o que tem por trás do produto originário, que é muito diferente de uma produção industrial. O nosso tem toda uma relação social e de troca, os mais velhos com os mais novos”, pontuou Carla Silva, indígena da etnia Marajoara.

Carla Silva defendeu o acesso a novos espaços de comercialização e a necessidade de sensibilização da sociedade em torno do artesanato indígena

O seminário também contou com uma mesa sobre economia indígena, composta por Gardênia Cooper, indígena Warao e representante das cursistas do Formar Artesãs Indígenas; Clementine Marechal, do IEB; e Evelyn Xipaya, da Coant.

“Esse seminário é também uma forma de combater o racismo, incluir e visibilizar os povos indígenas. Esse movimento não deve parar aqui, devemos chamar a atenção do poder público em todas as esferas. Tem toda uma cadeia e compreender esse processo é importante para eles poderem melhor ser inseridos no mercado de trabalho para simplesmente não atender a uma lógica capitalista”, afirmou Evelyn Xipaya, da Coant.

A programação do seminário contou com uma mesa sobre economia indígena, composta por Gardênia Cooper, indígena Warao e representante das cursistas do Formar Artesãs Indígenas; Evelyn Xipaya, da Coant; e Clementine Marechal, do IEB

Após a mesa, Mariluz Mariano, do Conselho Warao Ojiduna, fez a leitura da carta, construída de maneira colaborativa entre as cursistas, com as principais demandas para o fortalecimento do artesanato indígena no município. 

O texto foi centrado em tópicos que abordam quatro pontos principais: acesso às matérias primas, melhoria na produção, estratégias de comercialização e pautas transversais como combate ao racismo e à xenofobia, apoio na elaboração de projetos e formulação de políticas públicas para o fomento do artesanato indígena no âmbito municipal. A íntegra do documento pode ser conferida aqui.

A carta foi entregue ao prefeito Edmilson Rodrigues e aos demais representantes institucionais presentes no seminário. 

Formar Artesãs Indígenas

Curso que antecedeu o seminário, o Formar Artesanato Indígena foi realizado nos dias 21, 22, 28 e 29 de outubro, em Belém. A formação foi centrada em quatro eixos: arte indígena, gestão de empreendimentos coletivos, participação social das artesãs indígenas na agenda global e estratégias para incidência política.

Realizado pelo IEB em parceria com a Gestos, com financiamento da União Europeia, o curso integra o projeto Nona Anonamo Tuma – Fortalecendo artesãs indígenas para incidência e participação política.

Da comunidade Caju-Una, localizada na Ilha do Marajó, Carla Silva conta que o curso e o seminário representaram uma oportunidade de expansão. “Pela primeira vez eu me senti empoderada enquanto representante de um povo, enquanto mulher, pelo trabalho que eu desenvolvo. E ter essa relação com outros outros povos, conhecer essa cosmologia de cada um deles foi de extrema importância”, avalia.

“Agora a minha principal expectativa é que isso [a carta] seja executado de verdade porque já não dá mais para retroceder,  aqui eles viram corpos com suas próprias políticas e nós temos que conseguir nos transformar em um bom adubo para as futuras gerações”, pontua Carla.

Para Gardênia Cooper, Warao residente da região metropolitana de Belém, o Formar trouxe o reconhecimento de práticas já realizadas. “Conheci a palavra Economia Solidária e percebi que já fazíamos isso há muito tempo. Entendo que precisamos melhorar o nosso trabalho, ter mais conhecimentos e ser mais valorizado. Me sinto muito orgulhosa de ser artesã”, compartilhou Gardênia. 

Exposição de peças feitas por artesãs indígenas