Manaus, 21de janeiro de 2020

O Observatório BR-319, rede de instituições da qual o IEB faz parte, criada em 2017 para contribuir com o fortalecimento da participação da sociedade civil na governança do território sob influência da rodovia federal BR-319, vem através desta nota manifestar espanto e tristeza com declarações desonestas e infundadas de lideranças políticas e veículos de comunicação do Amazonas, que de forma irresponsável buscam responsabilizar movimentos sociais e ambientalistas como principais atores de entrave à conclusão das obras de repavimentação da BR-319.

Eles alegam que este seria um dos motivos de um suposto isolamento de Manaus e que, por sua vez, contribuiria com o atual cenário de tragédia sanitária no Amazonas. Neste momento de crise humanitária, sem precedentes na história moderna da região, multiplicam-se lamentações de que a falta de pavimentação da rodovia BR-319 seria o motivo de estarmos vivendo esse trágico momento.

Ainda é colocado que o fato do Amazonas ser um estado que conserva suas florestas e que implementa uma agenda socioambiental há décadas seria a causa da sociedade amazonense estar em estado de penúria e abandono, vivendo em isolamento do restante do país. Sendo assim, vimos a público manifestar nossa indignação por declarações de tamanha irresponsabilidade, que somente confirmam a incompetência de nossa classe de governantes atuais de lidar com um problema tão sério e que vem ceifando tantas vidas. Responsabilizar a trafegabilidade limitada atual da rodovia BR-319 pela falta de oxigênio para atendimento dos pacientes internados em Manaus (e no estado) é uma forma de isentar a real responsabilidade do poder público, que há quase um ano deveria estar enfrentando a pandemia de forma planejada e estratégica e também sorrateiramente esquecer-se ou desviar a atenção de todo oreal processo histórico que levou a esta situação.

Manaus, a cidade mais rica e populosa da Região Norte, com um parque industrial avançado, não seria capaz de produzir o próprio oxigênio que agora necessita? A capacidade de produção de oxigênio não deveria ter sido aumentada já em 2020? E o que dizer ainda da situação dos hospitais do Amazonas?

Há décadas convivemos com uma situação precária em relação à saúde pública em toda a região e isto ficou ainda mais evidente em 2020, quando se constatou publicamente que em todo o Amazonas, apenas Manaus possuía leitos de UTI. Atacar as instituições de pesquisa, órgãos legais e organizações da sociedade civil, assim como a agenda socioambiental do estado é desrespeitar um trabalho sério, realizado há décadas e que é encabeçado pelas agências de estado: federal, estadual e municipais, como é o caso do processo de repavimentação da BR-319.

A conservação do patrimônio natural do Amazonas tem ainda sido crucial para trazer investimentos de porte ao estado e levado comunidades do interior, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, ao protagonismo em processos de tomada de decisão e implementação de políticas públicas, entre tantos outros avanços importantes.

Entendemos a importância da repavimentação da BR-319, acompanhamos e contribuímos tecnicamente ao processo e por isso afirmamos que não é a proteção do patrimônio natural do Amazonas que atrasa a sua conclusão, mas sim a falta de competência e interesses políticos de fazer com que as obras respeitem a legislação ambientalbrasileira e os mecanismos de salvaguarda social, seguindo assim a sua conclusão de forma responsável, transparente e participativa.

Por fim, e profundamente tristes com o que acontece em Manaus, que atinge a tantos familiares e amigos/as, nos solidarizamos com todas/os que, como nós, estão sofrendo esta situação, com perdas irreparáveis de vidas. Exigimos queos poderes públicos de fato foquem nas ações que podem ajudar a população neste momento, que não fiquem se utilizando de subterfúgios para desviar suas responsabilidades pelo que estamos passando e que, daqui em diante, busquem trabalhar de forma objetiva e direta.

Nós, do Observatório BR-319, estaremos atentos e ativos em ações de apoio que se fizerem necessárias.