Comunicação e saúde: seminário reúne organizações indígenas, ONGs e pesquisadoras(es) na UFPA, em Belém

  abril 27, 2023

O seminário “Comunicação e Saúde indígena: conectando estratégias para garantia de direitos” reuniu representantes de organizações indígenas, instituições socioambientais e pesquisadores para discutir as estratégias de comunicação que podem contribuir para o acesso dos povos indígenas aos serviços de saúde.

O evento foi realizado no Auditório Setorial Básico II, da Universidade Federal do Pará (UFPA), no último dia 18, terça-feira. Representantes da Associação dos Povos Indígenas Estudantes da UFPA (APYEUFPA), instituições da sociedade civil, estudantes e professores da universidade, além de representantes das comunidades Warao, participaram.

Participantes no seminário “Comunicação e saúde”, na UFPA. Foto: IEB

Com apoio da Faculdade de Ciências Sociais da UFPA, o seminário é uma iniciativa do projeto “Redes de comunicação indígena: tecendo laços contra a COVID-19”, do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), que busca contribuir para articulação de comunicadores da etnia Warao, que vivem em Belém e Ananindeua (PA), e comunicadores do Conselho Indígena de Roraima., na incidência de ações que combatam os efeitos da pandemia.

Comunicação para a saúde – O projeto estimula o diálogo entre comunidades e poder público para discutir questões sobre a saúde indígena, além de identificar e combater a desinformação que piora os efeitos da pandemia de COVID-19. Para alcançar esses objetivos, a estratégia foi fortalecer a atuação de comunicadores comunitários, por meio de encontros formativos e interação entre indígenas de diferentes territórios.

“Estamos fazendo essa comunicação dentro da comunidade e com os profissionais de saúde. Estamos falando para que todos se vacinem e ajudamos na tradução, pois muitos de nós não falamos espanhol, somente Warao”, explica Jhonny Rivas, um dos comunicadores indígenas que participou do projeto e também é uma das lideranças do Conselho Warao Ojiduna.

Jhonny, que faz parte da comunidade Warao Ajanoko, localizada na Ilha de Outeiro, em Belém (PA), falou também sobre os desafios que têm a seguir: “nos falta muito ainda, pois temos que formalizar nossa representação, mas agora que temos nosso conselho demos um passo mais a frente. Agora nos falta conhecer mais pessoas, mais instituições”, reforça.

Os Warao são indígenas migrantes refugiados, que vivem principalmente na região Norte do Brasil, oriundos da Venezuela. Atualmente, mais de 700 indígenas dessa etnia vivem nos municípios de Belém e Ananindeua, com total de 10 comunidades.

De acordo com levantamento do projeto, os índices de vacinação contra a covid-19 entre essa população são equilibrados em relação às duas primeiras doses, mas são menores os números de indígenas Warao que tomaram as demais doses de reforço. Além disso, o projeto também identificou dificuldades de comunicação entre os Warao, profissionais de saúde e órgãos públicos, o que dificulta o acesso a informações seguras e aos serviços de saúde.

Aluna do doutorado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, Luana Kuamaruara participou do evento e frisou a importância da relação entre os povos originários e o território. “Temos uma relação muito forte com a terra, mas esses saberes acabam sendo desvalorizados pelos enfermeiros, pelos médicos. Imagina como deve ser difícil para os Warao, sem ter uma terra ou um território para plantar”, comentou a pesquisadora, que também é uma das lideranças do movimento indígena na região oeste do Pará.

Além da criação do Conselho Warao Ojiduna, uma das primeiras organizações de indígenas em contexto de refúgio no Brasil, os Warao da Região Metropolitana de Belém também articularam um comitê de saúde composto por voluntários que atuam nas comunidades, apoiando a comunicação entre os indígenas e os profissionais de saúde..

Sobre o projeto – Implementado pelo IEB, o projeto “Redes de Comunicação Indígena” conta com a parceria do Conselho Indígena de Roraima e do Conselho Warao Ojiduna, além do apoio da Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID), Iniciativa de Novos Parceiros – Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem).

No Pará, o projeto promoveu reuniões e rodas de conversa entre lideranças das comunidades Warao e dos órgãos públicos de saúde do estado e dos municípios de Belém e Ananindeua. Além disso, lideranças e comunicadores Warao participaram de formações de comunicação e intercâmbio com comunicadores indígenas de Roraima.

“Esse projeto trabalha com uma população invisibilizada e fortalecer a atuação do Conselho Warao. Ter essa representatividade e essa organização é muito importante para fazer a política pública chegar onde tem que chegar. Além disso, traz a figura do comunicador que é muito importante, principalmente pela necessidade de diálogo entre culturas e costumes. A comunicação é um desafio que está para além da barreira da língua”, avaliou o gerente de programa Gabriel Cortês, da NPI Expand.

USAID, NPI EXPAND e SITAWI formam a plataforma “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)”, uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19.