A força do cooperativismo no Cerrado: o primeiro encontro da CooperFrutos do Paraíso

CooperFrutos celebra união e fortalecimento em primeiro encontro após 18 anos

No coração da Chapada dos Veadeiros, onde o Cerrado estende suas raízes profundas, os modos de vida tradicionais se entrelaçam com a terra, as águas, os bichos e as tantas riquezas naturais desse bioma. É nesse cenário de sociobiodiversidade pulsante, que agricultores familiares e extrativistas, mantêm vivas as suas práticas tradicionais de cultivo e extrativismo, garantindo o sustento de suas famílias e de tantas outras por todo o Brasil, demonstrando a força da cooperação e da força comunitária.

Nesse contexto, a Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais de Alto Paraíso de Goiás e Região da Chapada dos Veadeiros, CooperFrutos do Paraíso, realizou o seu primeiro encontro, após 18 anos da sua fundação, reunindo cooperadas(os) de todo o nordeste goiano. O evento, realizado entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2024, reuniu 65 cooperados e parceiros, na Cidade da Fraternidade, em Alto Paraíso de Goiás, promovendo encontros, intercâmbios de saberes e fortalecendo os vínculos entre novos e antigos cooperados, fundadores e gestores da cooperativa.

Fernando Trindade, cooperado um dos fundadores da CooperFrutos compartilhou em sua fala: 

“Na verdade, o termo não deveria ser “cooperado”, e sim “cooperante”, porque é ATIVO e PERMANENTE. A cooperativa é o cooperativismo permanente e ativo. Quando cooperamos, ficamos e nos sentimos mais fortes, porque podemos colher os frutos da nossa cooperação. Então, que possamos continuar cooperando uns com os outros e com a natureza. Cooperar em qualquer lugar, onde estivermos, com quem estivermos e com o que tivermos. Que possamos continuar nesse trabalho! E a nossa cooperativa tem se fortalecido cada vez mais, se tornando um negócio bom para todos: para quem produz os alimentos, para quem comercializa, para quem consome e para toda a natureza. É isso, gratidão a todos.”

Entrega de homenagem aos fundadores da Cooperativa. Da esquerda para a direita: Dona Santina (Cooperada), Thamiles (Diretora Administrativa), Fernando (Cofundador), Nayara (Diretora Comercial) e Sinormar (cofundador). Foto: Camila Behrens

O encontro trouxe reflexões importantes sobre a trajetória inspiradora da CooperFrutos, que reflete a diversidade da região. A cooperativa reúne assentados da reforma agrária, a comunidade espírita da Cidade da Fraternidade, agricultores familiares, extrativistas e quilombolas Kalunga de oito municípios, São João d’Aliança, Alto Paraíso, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma, Colinas do Sul, Campos Belos, Monte Alegre de Goiás. Essa reunião de um grupo tão diverso, pela primeira vez em quase duas décadas, trouxe à tona tanto os desafios quanto as riquezas que essa diversidade abrange, além de discutir o cenário atual e as oportunidades presentes e futuras.

Seu Sinomar, um dos fundadores da CooperFrutos compartilhou suas reflexões:

“Esse primeiro encontro é uma maravilha! Já fizemos assembleias, mas um encontro desse nível, nunca conseguimos antes. Com a ajuda do IEB, conseguimos realizar esse evento, e é muito importante. Infelizmente, não temos todos os cooperados aqui, mas tenho certeza que no próximo vamos reunir ainda mais gente. Estou muito feliz por termos representantes de todos os oito municípios. Trabalhar em cooperativa é muito importante. A força do cooperativismo está em estarmos juntos, porque sozinho ninguém consegue fazer tudo. E para nós, que trabalhamos com alimentação escolar, a cooperativa é essencial para acessar as políticas públicas. Juntos, o nosso limite é infinito.”

Cooperadas Kalunga participam de atividade enquanto cuidam de uma criança da Cidade da Fraternidade, filha de cooperados. Foto: Camila Behrens
A COOPERFRUTOS E AS OPORTUNIDADES ABERTAS PELAS POLÍTICAS PÚBLICAS

A CooperFrutos atua como uma importante ponte entre os agricultores familiares e extrativistas da Chapada dos Veadeiros e as oportunidades oferecidas pelas políticas públicas de compras governamentais, como os programas PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Essas iniciativas são fundamentais para garantir que os produtos originados de práticas sustentáveis, que respeitam e preservam o bioma, cheguem às mesas das escolas e instituições públicas, além de serem acessíveis ao consumidor final nas cidades da região.

Ao participar desses programas, a cooperativa não apenas assegura uma fonte estável de renda para seus membros, mas também fortalece a economia local e regional, promovendo o desenvolvimento sustentável e colocando comida de qualidade na mesa da população. O acesso a esses mercados institucionais permite que os cooperados mantenham suas tradições de cultivo e coleta de produtos nativos do Cerrado, como o baru, o pequi, o cajuzinho e o babaçu, ao mesmo tempo em que atendem a uma demanda crescente por alimentos saudáveis e produzidos de forma sustentável e amorosa com a terra.

Cooperados reunidos para apresentar os principais desafios enfrentados e sugerir soluções. Foto: Camila Behrens

A venda direta aos consumidores também é um componente vital da estratégia da CooperFrutos. Isso cria um elo direto entre os produtores e as comunidades urbanas próximas, valorizando os produtos regionais e promovendo uma maior conscientização sobre a importância da agricultura familiar e do extrativismo no Cerrado. 

Cooperados discutem os principais desafios enfrentados e propõem soluções durante uma atividade. Foto: Camila Behrens

Ao participar do 1º Encontro de Cooperados e Cooperadas, esses agricultores e extrativistas reafirmaram seus compromissos com o coletivo, discutiram os desafios enfrentados e celebraram as conquistas obtidas ao longo dos anos. O evento também serviu como uma plataforma para fortalecer a cooperação e planejar futuras iniciativas que continuarão a garantir que os modos de vida tradicionais e a biodiversidade do Cerrado sejam preservados para as gerações futuras.

Avecy, cooperada quilombola kalunga do Vão do Moleque, expressou gratidão em suas falas de encerramento:

“Estou muito feliz com o encontro, foi muito bom! Agradeço a toda a equipe da CooperFrutos e ao Sinomar, que me trouxe para a cooperativa. O bom de juntar todo mundo é que a gente troca ideias e aprende uns com os outros, porque ninguém sabe tudo. O mais importante na cooperativa é que todos ajudam uns aos outros.”

E Cassimira, também cooperada Kalunga, complementou:

“A união é a nossa força! Precisamos estar juntos para continuar com esse projeto. Agradeço à CooperFrutos por este evento tão bom e espero que isso aconteça mais vezes.”

Avecy e Cassimira, cooperadas quilombolas kalunga, reunidas durante o encontro da CooperFrutos. Foto: Camila Behrens

Marconey, morador do assentamento Sílvio Rodrigues, cooperado da Cooperfrutos e vereador do município de Alto Paraíso, expressou o seu sonho para o futuro da cooperativa:

“Há mais de dez anos faço parte desta cooperativa e, durante esse tempo, testemunhei o seu crescimento e o dos produtores que antes não tinham quase nenhuma opção. Hoje vejo que eles conseguem se desenvolver na terra. E é por isso que o meu grande sonho para mim, os cooperados e para a cooperativa, é que os produtores alcancem autonomia social e financeira, e consigam criar os seus filhos na zona rural e viver dignamente no campo, tudo isso através do trabalho coletivo da nossa cooperativa.”

O primeiro encontro de cooperados(as) da CooperFrutos foi realizado com o apoio do Instituto de Educação do Brasil (IEB), do Fundo Global pelo Meio Ambiente (GEF) e do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), no âmbito do projeto Baru da Chapada. O evento contou com a participação de representantes da Central do Cerrado, da Embrapa Cenargen, Terezinha Aparecida, e dos secretários de Agricultura e Educação de Alto Paraíso de Goiás, Marlon Bandeira e Daniel Ramos, respectivamente, além do Secretário de Agricultura de São João da Aliança, Joelmar Ferreira.

Cooperados em reunião, fortalecendo o diálogo e a cooperação. Foto: Camila Behrens
BARU DA CHAPADA

O projeto Baru da Chapada, cujo nome oficial é “Cerrado em pé com geração de renda: a cadeia produtiva do baru como aliada da biodiversidade e dos povos tradicionais”, nasceu em 2023, tendo como objetivo fomentar a conservação do Cerrado no nordeste e noroeste de Goiás por meio do fortalecimento de suas populações tradicionais e da sociobiodiversidade.

Em parceria do IEB com a Associação Quilombo Kalunga (AQK) e a CooperFrutos do Paraíso o projeto é estruturado em três componentes:

  1. Cadeia produtiva justa e sustentável do baru;
  2. Organizações de base comunitária fortalecidas e
  3. Governança, monitoramento e comunicação.

Dessa forma, o projeto inclui componentes voltados para o fortalecimento institucional, organização social e geração de renda de maneira sustentável, sempre respeitando e valorizando os saberes tradicionais dos povos do Cerrado. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.

Da esquerda para a direita: Michael, Andréia e Bianca, da equipe do IEB; Nayara (Diretora Comercial); Dax (Presidente da Cooperativa); Benício, filho de Nayara; e Thamilis (Diretora Administrativa), em reunião na sede da CooperFrutos do Paraíso. Foto: Camila Behrens

Equipe de trabalho e parceiros do Projeto Baru da Chapada.Foto: Adriano Maneo

Para saber mais sobre a CooperFrutos, acesse o site da cooperativa clicando aqui!

Texto: Camila Behrens

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