Uma caminhada por direitos: formação aborda fortalecimento organizacional e institucional de organização Warao criada no Pará

Legislação indigenista, estratégias de mobilização e de fortalecimento intercomunitário foram alguns dos temas  abordados no primeiro círculo do “Formar Warao – Autogestão e incidência política”, curso realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), nos dias 21 a 24 de maio, em Belém.

Inserida no projeto “Povos das Águas: Waraotuma Kokotuka Saba”, a formação foi desenvolvida para auxiliar o Conselho Warao Ojiduna — uma das primeiras organizações de indígenas refugiados no Brasil — em seus processos de desenvolvimento organizacional e institucional, com o objetivo de fortalecer a autogestão e a autonomia da organização.

“Em 2023, o Conselho Warao Ojiduna passou por uma formação continuada focada na própria estruturação do Conselho. O resultado mais visível desse processo foi a elaboração do Plano de Ação, um instrumento que orienta a atuação do Conselho. Hoje estamos dando continuidade nesse processo, desta vez, com foco na implementação do Plano de Ação”, explica Clémentine Maréchal, analista socioambiental do IEB.

Provenientes da Venezuela, desde 2014 os Warao têm lutado para serem reconhecidos enquanto povo indígena no Brasil. Desde 2021, IEB e Acnur apoiam os Warao em suas ações de incidência política pela garantia de direitos. A criação do Conselho Warao Ojiduna, em 2022, é um dos resultados desses processos.

“Temos aprendido que temos direitos indígenas como qualquer parente brasileiro. É importante ter a nossa própria comunidade, a nossa própria educação, saúde e moradia, feito por nós mesmos, indígenas. Esta formação está nos trazendo novas experiências e novos conhecimentos para poder avançar”, comenta Isneiris Nuñez, atual coordenadora do Conselho Warao Ojiduna e uma das cursistas do Formar.

Em Belém, lideranças Warao participam de processo formativo focado em fortalecimento organizacional e institucional

Para auxiliar os Warao na elaboração de suas próprias ferramentas de autogestão e incidência política, o Formar Warao promoveu 32 horas de encontros formativos, divididos em quatro dias.

Uma das atividades foi um exercício de pesquisa e memória, em que os Warao fizeram um resgate dos papéis tradicionais de suas lideranças na Venezuela e de como alguns aspectos poderiam inspirar o Conselho e as próprias comunidades no fortalecimento da sua organização.

Também foi realizada uma contextualização da política indigenista brasileira, com foco na saúde, educação, cultura e acesso à terra, assim como conversas com cada um dos comitês temáticos do Conselho, com o objetivo de auxiliar os Warao na organização de suas próprias demandas.

As aulas e as dinâmicas foram conduzidas por Natalia Bentes e Bianca Miranda, da Clínica de Direitos Humanos do Centro Universitário do Pará (Cesupa); Ana Claudia Pinho, promotora do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e coordenadora do Centro de Apoio Operacional (CAO) de Direitos Humanos; Ricardo Cabano, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Uriens Cañete, Vitor Gonçalves e Clémentine Maréchal, do IEB; e por Almires Guarani, antropólogo e indígena das etnias Guarani e Terena.

“A caminhada Warao tem muita proximidade com a Guarani. O Guarani tem na sua cosmologia a filosofia do caminhar. Caminhando e seguindo o sonho, os Guarani chegaram ao Norte, após andar cerca de 5 mil quilômetros. Conseguiu  reconhecimento, sendo um povo de outro país, conseguiu uma terra e essa terra, hoje, é gerida pela Associação. É uma narrativa semelhante à dos Warao, claro, com outras motivações. Se eles estiverem atentos, a experiência Guarani pode ajudá-los muito nessa estadia aqui em Belém”, avalia Almires.

Uma das 27 lideranças Warao envolvidas na formação, Gardenia Cooper destacou a importância do intercâmbio com movimentos sociais e indígenas. “Tivemos muitas experiências bonitas, como a do nosso parente Guarani, que nos contou a história dele e foi muito interessante. Essa formação nos ajuda a seguir a nossa luta,  para que sejamos uma organização bem reconhecida. Isso vai nos ajudar muito porque ainda tem instituições que não nos conhecem”, avalia Gardenia.

 

Gardenia Cooper, uma das 27 lideranças envolvidas no Formar Warao

Avilio Cardona, do município de Abaetetuba, afirmou que a atuação do Conselho deve ser abrangente, considerando o bem-estar de todas as comunidades. “Fiquei muito alegre, muito contente por esse encontro e pelas conversas. Porque nós, cada representante das comunidades, cada cacique e liderança de comitê, todos estamos emplacando o nosso Conselho Warao Ojiduna aqui em Belém, no estado do Pará, mas para toda a comunidade indígena Warao”, disse.

Próximos passos – O Formar Warao segue para o Tempo Comunidade, momento em que os diferentes comitês do Conselho Warao Ojiduna visitarão as comunidades para elaborar diversas ferramentas de autogestão, como o Plano de Educação e o protocolo de saúde Warao, além de desenvolver as atividades planejadas no último dia

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