Passado, presente e futuro: IEB tem semana de celebração e planejamento estratégico no marco dos 25 anos de história

Manter a capacidade de atuar se adaptando aos contextos e desafios dinâmicos, com escuta ativa, construção coletiva, sob demanda e tendo como princípio o protagonismo dos parceiros, e não o próprio, é um desafio enorme. Fazer isso por um quarto de século é ainda mais desafiador e, por isso, no dia 14 de novembro, essa trajetória foi celebrada em Brasília, no Seminário IEB 25 anos.

Em um dia de homenagens, ‘causos’ e muitas memórias, o Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB reuniu as muitas gentes que fizeram, fazem e farão parte dessa história que continuará por muitas outras décadas para relembrar a história, como e por que estamos onde estamos e para onde os ventos apontam nos próximos 5, 10, 25 anos.

Equipe do IEB durante Planejamento Estratégico 2023-26 realizado após o Seminário IEB 25

“Não é que o IEB queira se meter em conflitos. Mas a gente está em territórios de conflitos. E isso tem a ver com a missão que a gente assumiu” resumiu Daltro Paiva, coordenador de projeto e uma das vozes da experiência dentro da casa.

“Se o nosso propósito é  atuar para que, junto com as populações, elas tenham seus direitos garantidos, não tem como não termos embates. Eles vêm. A gente pode abordar o conflito para agudizá-lo, ou a gente pode, na medida que o conflito está agudizado, descobrir formas de superá-lo, mas com a delicadeza e sensibilidade de não pôr panos quentes. Aqui emerge algo da metodologia, do modo de trabalhar do IEB, que não coloca em escondido, mas assume o conflito e desenvolve métodos e mecanismos de superar”.

Reunião de final de ano do IEB em 2007. Foto: Acervo IEB

Após uma sessão de homenagens a parceiros fundamentais para essa história -incluindo os que estão aqui e também os que já nos deixaram- o Seminário de 25 anos teve um balanço da história dos quatro programas do IEB, além de um panorama do presente e do futuro.

O Programa Povos Indígenas contou um pouco de sua história no Sul do Amazonas e em Roraima, a construção de parcerias com 14 organizações e o esforço para contribuir tanto com a construção como com a implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (PNGATI).

 

Já o Programa Povos do Cerrado, o mais novo do IEB, resgatou os trabalhos do IEB com o Cerrado no início dos anos 2000 e como a agenda no bioma voltou com força dentro da instituição a partir do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) e inspirou a nova agenda que está sendo iniciada com uma cara mais IEB, próximo do chão e em parceria direta com organizações comunitárias cerratenses para projetos com a cadeia do Baru, com fitoterápicos e também na missão de reconhecer o ofício das raizeiras como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Programa de Ordenamento e Governança Territorial na Amazônia, conhecido por ORDAM, trouxe a história do seu mito de origem, o Programa SulAm, os inúmeros processos de apoio à regularização de terras no Sul do Amazonas e a importância do Fórum Diálogo Amazonas e também as novas frentes voltadas às economias da sociobiodiversidade e à defesa de direitos de Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores Familiares.

Por fim, o programa Territorialidades, que atua nos estados do Pará e Amapá, apresentou a relação direta do seu trabalho com a agenda do Manejo Florestal Comunitário Familiar e as demais linhas de atuação que foram se desenrolando ao longo dos 18 anos do escritório regional de Belém (PA), como a agenda de restauração ambiental, de empreendimentos comunitários das economias da sociobiodiversidade, de engajamento do papel das mulheres na governança territorial, fortalecimento de comunidades frente à conflitos socioambientais e, mais recentemente, o fomento à organização comunitária de indígenas refugiados da etnia Warao.

 

“O IEB trabalhou em 1998 na primeira oficina de manejo florestal comunitário e familiar, e percebi que ali tinha uma coisa muito nova, desafiadora e corajosa. A gente enfrentar o debate para as alternativas em torno do desmatamento na Amazônia, focado na cadeia da madeira pelos povos e comunidades tradicionais é uma coisa muito inovadora”, rememorou Manuel Amaral, da coordenação geral do IEB e presente em praticamente toda a história iebana.

 

DUAS ORELHAS E UMA BOCA

O histórico encontro também trouxe representantes de organizações parceiras para dois debates sobre “Formação, Fortalecimento Institucional e Gestão Ambiental e Territorial”, as principais linhas de atuação do IEB junto aos seus parceiros ao longo da sua jornada.

“Maria José, fundadora do IEB, me disse uma vez que temos duas orelhas e uma boca”, lembrou Andreia Bavaresco, coordenadora-executiva do IEB. “E agora encerramos o dia a partir da escuta, que é a cara do IEB “.

Mesa de debate durante Seminário IEB 25 anos. Foto: Acervo IEB

Na primeira mesa, Lucia Alberta Andrade, do povo Baré e diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joaquim Belo, histórica liderança do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), e Adriana Ramos, secretária-executiva adjunta do Instituto Socioambiental e membro do Conselho Diretor do IEB. Na segunda, Fábio Vaz, coordenador-executivo do ISPN, e Maristela Bernardo, jornalista e conselheira do IEB desde o seu início, Rogenir Costa, da Fundación Avina, e Sineia do Vale Wapichana, autoridade climática indígena e diretora do Departamento de Meio Ambiente do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

“O IEB é uma instituição com papel importantíssimo como parceira de uma instituição pública federal, que é a Funai”, ressaltou Lucia Alberta. “Os povos indígenas precisam ter seus direitos garantidos, mas, sozinha, a Funai não consegue. Então instituições parceiras como o IEB são fundamentais. Ele nos ajuda muito na implementação de direitos, direito à gestão territorial, direito à implementação e elaboração dos planos de gestão territorial para os PGTAs, que é uma das políticas principais que direcionam o nosso trabalho nacional”, afirmou.

Lucia Alberta, durante mesa de debate no Seminário IEB 25 anos. Foto: Acervo IEB.

Adriana Ramos destacou o poder de inovação do IEB e a qualidade de conseguir atuar a partir das demandas e não com paixão cega pelas soluções. Também relembrou os tempos em que fez o Curso de Política, Direito e Comunicação Ambiental, marco no IEB pelo qual passaram muitos quadros que hoje formam o socioambientalismo brasileiro.

“Se tem uma coisa que foi importante nessa minha trajetória, foi esse curso do IEB”, celebrou. “O IEB foi uma organização que, ao longo do tempo, soube se colocar nesse papel, de ajudar a sociedade a se movimentar e fazer que a organização se movimente a partir da sociedade. […] Quando a gente encontra uma solução para algo, às vezes se apaixona pela solução e esquece do problema. Muitas vezes é fácil para qualquer organização se apaixonar pela solução e repetir a fórmula. E o IEB a gente vê que não se apaixonou fácil pelas soluções que criou, mas manteve o compromisso com o problema e criando novas formas de apoiar. É uma história de organização muito consistente com o compromisso inicial, mas a capacidade de renovação é impressionante”, resumiu.

Adriana Ramos recebe homenagem do IEB. Foto: Acervo IEB

Complementando, Andreia Bavaresco, coordenadora-executiva do IEB, lembrou que, de maneira geral, o caminho sempre foi colocar gente para conversar. Afinal, são elas o caminho para a sustentabilidade.

“A gente não fica apegado a soluções porque boa parte delas realmente não vinga. As soluções existem, o que a gente faz é colocar essas pessoas para conversar. Assim, essas soluções eclodem e essas vozes ecoam”.

No mesmo sentido, Sineia do Vale lembrou de algumas parcerias entre IEB e CIR e celebrou o longo trabalho que já chega a 10 anos e segue sendo desenvolvido em Roraima.

“O IEB tem potencializado esse trabalho que as comunidades indígenas já fazem. O importante não é chegar lá e reinventar a roda. É chegar lá e potencializar o que está dando certo”, disse. “O IEB, eu penso que, assim como o CIR, é uma organização que ajunta. Ajunta pra pensar, como podemos fazer melhor pra dar resultado pras nossas bases. Vocês continuem fazendo com que os povos indígenas sejam parte desse trabalho, e não beneficiários. Porque quando nos sentimos parte, a gente constrói junto. Vamos construir junto que a gente sai com algo muito positivo”.

E trazendo a voz da experiência de quem acompanha a trajetória da instituição desde o início, Maristela Bernardo, jornalista e ex-presidente do Conselho Diretor do IEB, resumiu o que entende como o trabalho do IEB e aproveitou para refletir sobre caminhos futuros para a instituição.

“Vimos pela manhã o quanto o IEB criou padrões, metodologias e conhecimentos no campo da sustentabilidade, naquilo que talvez seja a relação mais complexa nesse campo, que é: não existe sustentabilidade se você não consegue ir no caminho de mudanças, se você não equalizar as relações de poder. Então desde sempre, nos programas do IEB, estava muito claro que tínhamos o papel que era contribuir com os pequenos, não para serem grandes, mas para dialogar de igual para igual com os grandes, dentro daquele território que a gente chama de poder. O poder econômico, o poder financeiro, o poder tecnológico. Os pequenos não podem estar perdidos nesse diálogo. Têm que ir com suas razões, com seus direitos e reivindicações. Se isso não for conseguido, não há sustentabilidade possível. Teremos sempre uma situação de imposição”, analisou.

‘Que para para os próximos 25 anos, tendo a certeza de que está [no caminho] correto, de que nesses 25 anos atuou de forma inovadora e competente, mas que possa ditar de maneira ainda mais decisiva para o mundo aquilo que chamamos de sustentabilidade. Desejo ao IEB e ao mundo todo um futuro sustentável”, finalizou.

 

O FUTURO É LOGO ALI

Maristela Bernardo. Foto: Acervo IEB

Após um dia histórico de celebração e relembrança, o IEB reuniu grande parte de seu quadro para 3 dias de planejamento estratégico. O mote era discutir os objetivos estratégicos do IEB para os próximos 3 anos de atuação, alinhar os objetivos específicos dos programas aos objetivos do IEB e organizar a equipe, que cresceu muito nos últimos anos, dentro dos seus núcleos e também interprogramaticamente.

“A ideia desses três dias foi, a partir da revisita desse legado, olhar para a frente, para os próximos 3 anos”, resumiu Andreia Bavaresco. “Que a gente tenha conseguido olhar o IEB como um todo, os objetivos, as metas e como isso vai refletir dentro do nosso trabalho, do nosso programa e do nosso núcleo; que a gente possa fazer uma leitura de que IEB é esse hoje, e a partir disso vislumbrarmos o IEB que a gente quer. Quais as possibilidades de integração dentro do IEB e como aprofundamos isso, como aprimoramos isso?”. 

Compartilhe este conteúdo
Pular para o conteúdo