No Amapá, agroextrativistas participam de formação sobre governança territorial 

A atividade reuniu 40 pessoas de pelo menos 10 grupos ligados ao agroextrativismo no Estado

Cerca de 40 agroextrativistas amapaenses participaram do 4º círculo do “Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos”, realizado nos dias 27 e 28 de junho em Macapá,  na Universidade do Estado do Amapá (Ueap). Promovido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com a parceria local da Amazonbai  e da  Ueap, o curso abordou o tema governança territorial, com reflexões sobre concepções de território, organizações socioprodutivas e desenvolvimento territorial, organizacional e institucional. 

A formação integra a estratégia de gênero e sustentabilidade do Programa Territorialidades do IEB, que busca apoiar processos de organização coletiva e social, com o objetivo de facilitar a inclusão socioprodutiva de diferentes segmentos sociais da Amazônia.

Na programação, foram apresentados exemplos de mulheres que começaram a ocupar espaços de decisão de cooperativas e associações, como a trajetória da cursista Arlete Pantoja, hoje presidente da Associação Sementes do Araguari, no município de Porto Grande (AP). “Essas formações são muito importantes para a formação de novos líderes. Foi a partir de um ‘Formar’, também do IEB, que conseguimos nos organizar para alavancar as nossas produções”, avalia Arlete.

Analista socioambiental do IEB, Waldiléia Rendeiro explica que o curso visa ao fortalecimento de empreendimentos comunitários e coletivos de mulheres. “Ao trabalhar com mulheres e juventudes, o IEB inicia o processo formativo com intuito de contribuir, por meio da construção colaborativa de conhecimentos o fortalecimento dos agroextrativistas e suas organizações na perspectiva de gênero, subsidiando ações que valorizem seu protagonismo nas economias comunitárias”, explica Waldiléia.

O Formar Gênero e Sustentabilidade marca a parceria entre dois projetos nos quais o IEB tem participação, o Programa Economias Comunitárias Inclusivas,  apoiado pelo Fundo JBS pela Amazônia; e o projeto Semeando a Sustentabilidade, coordenado pelo IEB, com investimento do Fundo JBS pela Amazônia e da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA); e parceria institucional do Aliança Bioversity/CIAT e da cooperativa dos produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai).

Cursistas refletiram sobre concepções de território, elaborando desenhos a partir das diferentes características das realidades vividas nas dimensões geográficas, modos de produção, modos de vida, aspectos culturais, religiosos e de conflitos

Moradora da Reserva Extrativista (Resex) Cajarí, no Sul do Amapá, Euziane Souza (45) está à frente da Associação de Mulheres Agroextrativistas da Resex, a Amac. Para a agroextrativista, a formação trouxe novas ferramentas para auxiliar na gestão. 

Esses conhecimentos me incentivam a trabalhar mais no que eu já venho fazendo, me trouxe novos conhecimentos em como saber lidar com as instituições, com as pessoas, como resolver conflitos e como buscar parcerias, para poder trazer melhoria para dentro da própria instituição e da comunidade”, afirmou Euziane.

Da Cooperativa Mista Extrativista do Alto Cajari (Coopemac), situada também na Resex Cajarí,  Nilva Fonseca conta que, desde 2005, as mulheres trabalham com os derivados da castanha, especialmente biscoitos, bombons e paçoca. Segundo Nilva, o intercâmbio promovido pelo curso representa novas oportunidades de organização. “Esse curso foi muito proveitoso porque conhecemos as realidades das outras comunidades ribeirinhas. Esse aprendizado vai chegar até à minha casa e à casa de outras pessoas que não puderam participar”, relata. 

O 4º círculo também marca a entrada de representantes da Articulação de Mulheres Agroextrativistas Amazônidas (A-mana) no Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos. A articulação foi criada a partir do projeto Articulação em Rede, realizado pelo IEB e apoiado pelo Observatório do Manejo Florestal, Comunitário e Familiar (OMFCF).

A A-mana pretende ser um espaço de diálogo para o fortalecimento para os coletivos trocarem saberes, construírem novos conhecimentos e se articularem em prol de uma agenda comum para o enfrentamento dos problemas relacionados à inserção socioprodutiva nas dimensões no campo cultural, educacional e aprimoramento de sua estrutura produtiva e organizacional.

Programação

Um dos momentos da formação foi dedicado à auto análise do nível organizacional, a fim de provocar reflexões sobre a maturidade das organizações de base comunitária em áreas como governança e gestão financeira, comercial, socioambiental, de pessoas e de processos produtivos. 

Os participantes  foram estimulados a pensar nos pontos fortes e fracos dos grupos nos quais estão inseridos, aferindo a escala de maturidade de cada coletivo. Em grupos, participaram de dinâmicas para discutir e pensar estratégias para resolução de problemas de forma coletiva, envolvendo questões sobre liderança e os papéis de cada um na ação coletiva.

O Formar Gênero e Sustentabilidade também promoveu uma roda de conversa sobre a retomada de políticas socioambientais, com a participação de Anderson Cabral, representante do do Banco da Amazônia; Juliana Nunes, da Câmara de Comercialização de Produtos da Sociobiodiversidade e Agroecologia do Amapá (Camap); Daniele Montenegro, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab-AP); e Dayse Oliveira e Renata Magalhães, da Secretaria de Estado da Educação do Amapá.

Mesa sobre retomada de políticas socioambientais, com a participação de representantes do Banco da Amazônia, Camap, Conap-AP e Secretaria de Estado de Educação do Amapá

Foram discutidos temas como o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), o  Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), linhas de créditos rurais como o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além da Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio). Mulheres e jovens presentes tiraram dúvidas e levantaram diferentes desafios sobre o acesso e participação de agroextrativistas nas políticas públicas citadas. 

Continuidade – O próximo círculo da formação será realizado entre os dias 28 e 30 de agosto de 2023, no Bailique (AP). O tema será práticas de manejo e conservação da biodiversidade.

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