Oficina destaca mediação de conflitos na cadeia produtiva do óleo de palma

  dezembro 10, 2019

A Fundação Earthworm realizou entre os dias 03 a 05 de dezembro, em Belém (Pará), o treinamento em Mediação de Conflitos Sociais, tendo como participantes representantes de diferentes segmentos da cadeia de suprimentos de óleo de palma. O Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) foi o parceiro na execução da atividade, atuando como facilitador de todo o treinamento, moderado pela consultora Rebeka Vieira, advogada, mestre em Mediação de Conflitos e Negociação, pós-graduada em Transformação de Conflitos e Estudos de Paz e Equilíbrio Emocional, membro da Mecon Brasil Instituto de Mediação.

Capacitação
O curso reuniu 25 pessoas entre representantes do governo estadual e de municípios paraenses, de empresas e agricultores familiares vindos de sete municípios do Estado do Pará, todos envolvidos com a cadeia produtiva da palma. Os conflitos nessa cadeia estão ligados, geralmente, à falta de comunicação ou ao não cumprimento de acordos, explica Andresa Dias, gerente de projetos da Earthworm. “Observamos que esses agentes sociais precisavam de ferramentas para dialogar, resolver os dilemas e estabelecer acordos com objetivos comuns”, ressalta sobre o objetivo do curso.

Com apoio de material didático, e através de atividades coletivas os (as) participantes (as) dialogaram sobre conceitos e técnicas importantes de mediação de conflitos, dentre os temas destaca-se cultura de paz, negociação, mediação, comunicação ativa e ganhos mútuos. A oficina teve duração de três dias e buscou conectar a teoria com a vivência das pessoas.

“Buscamos trazer ferramentas que nos auxiliam a sair do piloto automático de ações e reações, trabalhando a redução dos conflitos a partir do reconhecimento das necessidades não atendidas e reais interesses, produzindo respostas mais atentas”, explica a consultora Rebeka Vieira. “Outro pilar do curso é a (re)conexão desses diversos atores sob o olhar da humanidade compartilhada, em que através do diálogo e do desenvolvimento da escuta atenta, os desafios são enfrentados pacífica e conjuntamente” pontua a moderadora do curso.

Para Manuel Amaral, coordenador do IEB, considerando a realidade da Amazônia, marcada por conflitos em torno da exploração dos recursos naturais, direito de uso e propriedade dos territórios, impactos econômicos, sociais e ambientais, o treinamento tem a importância de pautar o tema, reconhecendo sua existência. “O curso favorece a compreensão de que existem ferramentas para enfrentamento dos conflitos, propiciando uma reflexão que coloca na mesma mesa, atores que por vezes estão em lados opostos”, destaca Amaral.

O treinamento compõe parte estratégica do trabalho desenvolvido pela Fundação Earthworm, visto que há a compreensão de que a atuação das empresas provoca um conjunto de interferências que implicam sobre os stakeholders, e que a forma como se lida com estas interferências e seus impactos é muito reativa, sem que exista uma racionalidade para tratar estes conflitos de forma refletida.

Portanto, o treinamento buscou desenvolver capacidades dentro do tema, apresentar conteúdos, ferramentas e metodologias úteis para a resolução dos conflitos, além de capacitar comunidades e funcionários para se comunicarem efetivamente com as empresas, identificando parceiros e oportunidades das empresas trabalharem em conjunto para solucionarem problemas em comum.

Participantes

Uma das líderes globais de produção e processamento de alimentos é a Cargill. A empresa dialoga com outros empreendimentos responsáveis pelo beneficiamento do dendê para obtenção do óleo de palma. “A gente observa que na cadeia produtiva há conflitos, há interesse diversos”, observa o analista de Sustentabilidade da Cargill, Fernando Janizello. Ele ressalta a contribuição da capacitação para tratar desse contexto conflitante.  “Esse curso promove ferramentas e técnicas para uma solução eficiente dos nossos dilemas, favorece para que os problemas não se agravem e saiam do controle”, relata.

“Quando a gente viu o título do curso, ficamos muito interessados”, conta a gerente de articulação e mobilização do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), Rita Siqueira.  Ela mudou sua percepção sobre o conceito de conflito. “O termo não é necessariamente confusão, pode ser encarado como divergência de ideias, algo possível de resolver entendendo o ponto de vista do outro”, explica.

 

Vindo do município de Tailândia, o agricultor familiar Sebastião Oliveira possui um lote com quase cem hectares onde cultiva palma junto com outras nove famílias. Dentre suas experiências, na relação com as empresas, ele destaca os conflitos decorrentes do não cumprimento de prazos pactuados na resolução de problemas, mas que podem ser gerenciados. Eu aprendi aqui [no curso] o que eu vivi. É difícil, mas tem que ter paciência, diálogo. Quem tiver cautela anda [resolve]”, finaliza o agricultor sobre o aprendizado no treinamento.

Fotos: Andresa Dias/ Earthworm
Texto: Lucas Filho/ Edição: Maura Moraes