Resistência – o ATL pelo olhar dos povos do Sul do Amazonas

  abril 29, 2019

Milhares de lideranças indígenas se reuniram, em Brasília, entre os dias 24 e 26 de abril, no a 15ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) sob o tema “Sangue indígena. Nas veias, a luta pela terra e pelo território”. O principal mote da mobilização foi de respeito aos direitos das populações indígenas  que estão sob forte ameaça por parte do governo, como explica Antonio Tenharin, Coordenador-Geral da Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira. “Nós, como lideranças do Sul do Amazonas, bem como todas as populações indígenas – que somos os povos originários desse país – exigimos respeito. É uma luta incansável, mas estamos resistindo. A gente vai resistir, vamos seguir tentando o diálogo e nos manifestando de maneira pacífica dentro do que é nosso direito” diz.

Para Andreia Bavaresco, Coordenadora Técnica do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o ATL deste ano tem uma característica fundamental que é sensibilizar e mostrar que existe um grande grupo social no Brasil que consegue se organizar e lutar pela manutenção de seus direitos. Os povos indígenas ensinaram a sociedade não indígena que mobilizar é possível, que reunir milhares de pessoas com a sua própria articulação e capacidade de demostrar que a sua pauta também é de todos nós, foi uma das grandes lições por eles demonstrada nesse ATL. “O próprio IEB se articula com o movimento indígena e outros parceiros para reafirmar nosso compromisso com esses povos. Para o IEB é o momento mais importante do ano para reafirmar o nosso compromisso com esses povos, com a luta indígena e com a manutenção dos seus direitos”, conta.

A articulação é feita com as organizações de base, lideranças, caciques, pajés e todos os povos envolvidos no ATL. “Estamos somando forças com os parceiros, com as organizações indígenas e outros países que abraçam as causas indígenas. Nós buscamos o apoio dos nossos parceiros, mas como indígenas, por nossa iniciativa e esforço, nós conseguimos chegar até aqui”, afirma Antonio Tenharim.

ENCONTROS E MOBILIZAÇÃO

Entre as principais demandas, estão a demarcação de terras indígenas, fundamental não apenas para a preservação do meio ambiente, mas também para a garantia da valorização da cultura e da realidade desses povos, sempre invisibilizados. Para Bavaresco, o movimento indígena hoje mostra para a sociedade civil como se organizar e protestar, com convicção dos seus direitos, dos seus modos de vida e do que querem como projeto de desenvolvimento.

Um exemplo é a luta pela garantia da educação escolar indígena diferenciada e com qualidade. “Estamos também aqui para defender uma educação indígena diferenciada, de acordo com a nossa realidade, com as especificidades de cada povo, respeitando nossas culturas tradicionais, nossa própria educação”, conta Antonio Tenharim.

É o que explica também Marines Francisca dos Santos, representante da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca Do Acre (AM) (Opiajbam): “Nós Apurinã, de Boca do Acre, estamos perdendo a nossa língua materna. Não importa o que você veste, o que você usa, como você se comunica. O que garante sermos o que nós somos é a nossa língua materna, nossa cultura. Se nós não valorizamos isso, a gente deixa de ser o que nós somos e o que muito nos orgulha. O importante é usar tudo isso e manter o que você é. Manter a sua cultura, a sua dança, a sua fala, e ensinar para os nossos netos, nossos filhos, para que eles possam dar continuidade a isso quando nós não estivermos mais aqui.”

A declaração final do Acampamento Terra Livre elenca todas as demandas do movimento e pode ser conferida aqui.