Nota de pesar: Rubens Gomes, o Rubão

  maio 29, 2020

Hoje o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) se junta ao lamento que percorre toda a Amazônia pela perda do ativista, músico e luthier, Rubens Gomes , o Rubão – cidadão aliado das causas defendidas pelo Instituto e seus parceiros.

Rubão, como era conhecido, tem uma extensa biografia, toda ela comprometida com a defesa da Amazônia. Foi diretor da rede Grupo de Trabalho Amazônico, formada por 20 coletivos regionais em nove estados brasileiros que ocupam mais da metade do tamanho do país. Em 1998 ele fundou a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela). A organização teve um caráter inspirador nas discussões do uso sustentável da floresta, pois ao mesmo tempo em que trabalhava com crianças da periferia de Manaus, mobilizava a arte da lutheria através do aproveitamento de resíduos da indústria madeireira.

Atuou no conselho diretor do FSC/Brasil, especificamente da Câmara Social onde defendeu a aplicação dos indicadores sociais da certificação junto às empresas. Em conjunto com outros companheiros ajudou alavancar as condições para que comunidades passassem a se certificar. Teve participação ativa no do Grupo de Trabalho do MFCF da Amazônia, uma articulação interinstitucional com organizações da sociedade civil e instituições de ensino e pesquisa que subsidiou a elaboração do Programa Federal de MFCF.

No Amapá, foi um dos grandes articuladores na construção dos Protocolos Comunitários, uma ferramenta de salvaguardas visando a repartição de benefícios, direitos de propriedades intelectuais e proteção da biodiversidade nos territórios habitado por comunidades tradicionais.

O IEB perde um parceiro de luta pela cidadania dos povos amazônicos, mas espera que a determinação de Rubão inspire, cada vez mais, a jornada coletiva em defesa daqueles (as) que ainda estão à margem de uma vida digna e justa pelas florestas e rios do Brasil.

Este homem de diversas facetas tinha em comum a todas sua indignação com a desigualdade e seu compromisso com uma Amazônia para seus povos. Emprestamos as palavras de Carlos Ramos, ativista ambiental que bem demonstra estas facetas.

“ Ele foi um músico que se encantou com o canto da floresta e disso fez uma das suas bandeiras que era promover o manejo florestal mais legítimo que existe: o das comunidades tradicionais (…) foi um músico que viu que a arte de produzir melodias começa ali no violão, no cavaquinho de madeira e deste baile convidou a juventude para produzir com as próprias mãos de Luthier os sons da cidadania, cujos acordes seguiram para marchetaria, para a informática, para a educação, para noções de inclusão das pessoas. Que virou orquestra no pobre bairro do Zumbi, em Manaus, que abraçou a todos nesta sinfonia que só os atentos ao tempo percebem (…) foi um mestre incansável para que a floresta se mantivesse em pé, usando fala mansa e segura como método. Que a muitos encantou com sua trova. Um trovador da natureza (…) Nunca vi alguém bailar no meio da multidão e cantar ao mesmo tempo. Certa hora eu nem já o via tão misturado que ficou com o povo dançante de sua seresta. Agora, amorosamente, está misturado em nós. Como uma canção”.

Rubens Gomes Presente! Presente!