Indígenas participam de curso de adubação orgânica no Amazonas

  maio 20, 2019

As comunidades das Terras Indígenas (TIs) Apurinã Km 124 e Boca do Acre, no Amazonas, participaram de curso formação em adubação orgânica, que oferece alternativa sustentável para o aumento da fertilidade do solo e, consequentemente, da produtividade, utilizando recursos da própria região em que vivem. Na TI Km 124 a atividade ocorreu nos dias 3 e 4 de maio. Em Boca do Acre a atividade ocorreu no início do mês de março.

Diferentes técnicas fizeram parte do processo, entre elas compostagem, fosfito, uso de pó de brita, de cama aviária e de microorganismos eficientes, que são utilizadas na produção de mudas a partir da semeadura de espécies como cacau, açaí nativo, pupunha, tucumã e castanha, que serão plantadas em Sistemas Agroflorestais (SAFs) implantados nas duas TIs. Cada território contará com quatro unidades demonstrativas, cada uma administrada por uma família indígena, que servirão de modelo para a ser aplicado em diferentes territórios.

“A gente já sabia plantar, mas não era desse jeito. Estamos aprendendo cada vez mais, trabalhando e vendo mais resultados”, explica Francisco de Oliveira Souza, agricultor, indígena Apurinã e agente ambiental indígena.

Os SAFs consistem no cultivo simultâneo de espécies lenhosas e agrícolas em um mesmo espaço geográfico para obter maior oferta de produtos, além de garantir segurança alimentar das famílias e otimizar o espaço usado pelos indígenas para cultivo, permitindo uma produção sustentável.

“O bom dessas atividades é que a gente aprende a lidar com aquilo que é aqui da nossa própria natureza e ampliar um SAF que já está funcionando com ainda mais produção”, conta Dedivaldo de Melo Souza, agricultor, mecânico e agente ambiental indígena.

Outro objetivo do curso de adubação é de aperfeiçoar práticas sustentáveis de agricultura. Isso dá autonomia, inclusive financeira, para as comunidades indígenas, que passam a não depender da utilização de suplementos no cultivo. “A gente pode usar até com outros produtos. Eu quero usar o adubo agora com a cebola, por exemplo, que pode ficar melhor e mais forte”, completa Dedivaldo.

TÉCNICAS UTILIZADAS

Compostagem: Utiliza-se qualquer material vegetal da própria localidade onde a família mora, empilhada em camadas, uma de esterco e outra de pó de brita. Em seguida é feito o regamento – ao longo de 30 a 45 dias até que os microorganismos do esterco consumam o material vegetal, liberando os nutrientes das plantas.

Fosfito: queima do osso de gado e aves, estes últimos fornecidos por frigoríficos dos arredores da TI. É um material barato, que muitas vezes é descartado. Após a queima, é misturado com melaço de cana-de-açúcar e armazenado por um período de uma semana a dez dias. O melaço então reage com o fósforo do osso formando o fosfito, material através do qual as plantas absorvem o fósforo. A técnica é importante para o desenvolvimento do cultivo, já que a região amazônica é deficiente de fosforo.

Pó de brita: O pó de brita ou pó de rocha é um derivado de restos da construção civil, usualmente descartado e rico em minerais. A região também carece desse tipo de nutrientes, já que o intenso regime de chuva tende a carrega-los do solo. As rochas são trituradas e moídas.

Cama aviária:  esterco de galinha da granja próxima à TI, que ser misturado na compostagem ou diretamente nos SAFs.

Coleta de microorganismos eficientes na mata: arroz cozido, sem sal, óleo ou qualquer tipo de tempero. Esse arroz é enterrado na mata e aguarda-se para que os microorganismos ajam sobre ele. Depois o arroz é coletado e os microorganismos são selecionados de acordo com a sua cor e misturados em água com açúcar. Ali os microorganismos eficientes se proliferam e podem ser utilizados na produção de adubos líquidos, pois liberam nitrogênio de uma maneira que a planta consegue absorver. Além disso, estes microorganismos também impedem que outros prejudiciais ao cultivo ocupem espaço na terra enriquecida.

O Projeto Gestão Territorial Indígena no Sul do Amazonas (SulAm Indígena) tem o objetivo de apoiar a implementação de PGTA’s nas terras indígenas localizadas na bacia do Rio Purus (TI Boca do Acre, TI Apurinã Km 124 BR-317, TI Água Preta/Inari e TI Caititu) e na bacia do Rio Madeira (TI Jiahui, TI Nove de Janeiro e TI Ipixuna); além de apoiar  a elaboração do PGTA da TI Tenharim do Igarapé Preto. Executado pelo IEB com o apoio do Fundo Amazônia e em parceria com seis associações indígenas da região: APIJ, OPIPAM, APITIPRE, FOCIMP, OPIAJ e OPIAJBAM, tem como meta principal a implementação da PNGATI e o fortalecimento das associações indígenas, através da formação continuada de seus gestores, apoio à infraestrutura e a formação de agentes ambientais indígenas.