Em Belém (PA), fórum reúne empresários, poder público e sociedade civil para discutir empregabilidade de indígenas Warao refugiados

  novembro 9, 2021

Evento lideranças Warao, Alto Comissariado da ONU para refugiados, Ministério Público, empresários, governo estadual, prefeitura de Belém e organizações da sociedade civil

Mariluz Mariano, indígena do povo Warao, durante a abertura do evento. Foto: Rafaela Ferreira / IEB.

No último dia 4, foi realizado em Belém (PA), o primeiro Fórum Empresarial de Empregabilidade para Refugiados e Migrantes, promovido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). O encontro reuniu representantes de migrantes refugiados indígenas do povo Warao, que vivem em Belém e Ananindeua, empresários e representantes do poder público local.

Logo após a abertura, o oficial de meios de vida Paulo Sérgio de Almeida, apresentou as ações do Acnur para empregabilidade e empreendedorismo, destacando a plataforma Empresas com Refugiados. Em seguida, um painel reuniu alguns empresários e pequenos empreendedores para falar sobre boas práticas empresariais na inclusão de refugiados e migrantes. Artesã e mobilizadora social, Gardênia Cooper Queiroz, indígena do povo Warao, ficou otimista com a novidade no debate sobre os refugiados em Belém: “Eu vi que essas pessoas querem ajudar, dar uma oportunidade a essa gente que há tantos anos não tem tido. Eu penso que, se eles têm essa gana, essa força, tudo vai dar certo. Eu espero com muita alegria essa oportunidade ao povo Warao”.

Perfil socioeconômico – Um levantamento sobre o perfil socioeconômico das pessoas refugiadas em idade ativa para o trabalho, elaborado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), também foi apresentado no evento. O IEB implementa em Belém, com apoio do Acnur, o projeto “Povo das águas: trabalho, participação e meios de vida”, que busca contribuir com a inserção laboral de migrantes refugiados Warao por meio de um diagnóstico sobre as habilidades laborais e ações de formação.

O levantamento, que ouviu 142 pessoas, revelou que existem cerca de 605 indígenas Warao vivendo em oito comunidades entre os municípios de Belém e Ananindeua (PA). Desta população total, 46% são adultos em idade ativa para o trabalho, dos quais 53,26% são homens e 46,74% são mulheres. Há concentração principalmente entre as faixas de 20 a 24 anos (31, 21,8%) e 35 a 39 anos (30 pessoas, 21,1%). Em relação ao domínio de idiomas, a pesquisa constatou que 98,6% têm domínio da língua warao, 76% são fluentes em espanhol e 22,5% falam fluentemente em português.

Lanna Peixoto apresenta o mapeamento socioeconômico realizado pelo IEB. Foto: Rafaela Ferreira / IEB.

Apesar da baixa escolaridade e dos baixos índices de capacitações e cursos profissionalizantes, o mapeamento revelou alta variedade de atividades laborais desenvolvidas pelos participantes na Venezuela e no Brasil, além de expectativa de inserção no mercado de trabalho em pelo menos 22 segmentos, assim como o interesse por capacitações profissionais. Lanna Peixoto, analista socioambiental do IEB, que coordena o projeto Povo das Águas, destacou os desafios e as potencialidades para inserção produtiva de indígenas Warao em Belém e Ananindeua. “Entre os desafios, a gente vê, por exemplo, o baixo domínio do idioma local, as diferenças culturais no mercado de trabalho do Brasil e da Venezuela, a baixa escolaridade, a xenofobia e o racismo. Mas também vemos muitas potencialidades, como a diversidade cultural e de experiências de trabalho, as semelhanças geográficas entre o Brasil e a Venezuela que podem gerar uma fácil adaptação em trabalhos no campo, sem falar na abertura que essas pessoas têm para diferentes possibilidades de emprego”, afirmou Peixoto.

Próximos passos – A Promotora de Justiça Ana Claudia Pinho, que coordena o Centro Operacional de Direitos Humanos do Ministério Público do Pará, apontou que há vários próximos passos no esforço de inserção produtiva das pessoas refugiadas no Pará e disse que deverá seguir em diálogo com empresários e governos, mas também classificou o primeiro encontro entre empresários, poder público e sociedade civil como um sucesso. “Houve um compromisso do poder público, um engajamento da sociedade civil, um compartilhamento de experiências de empresários, todos muito imbuídos de um mesmo ideal: uma prática humanitária para absorver no mercado de trabalho as pessoas refugiadas”, destacou a representante do MPPA.

Alguns dos participantes reunidos ao final do evento. Foto: Rafaela Ferreira / IEB.

No âmbito do poder público, o Governo do Estado do Pará e a Prefeitura de Belém também apontaram estratégias conjuntas de apoio às ações de empregabilidade para refugiados. “A primeira estratégia é promover o encontro entre as capacidades que os refugiados já têm e as necessidades das empresas privadas. Outra é ajudar os arranjos produtivos e formas colaborativas de pessoas que já desenvolvem empreendimentos, como o artesanato, apoiando na aquisição de insumos e disponibilizando espaços de comercialização. Uma terceira estratégia é abrir canais de fomento aos refugiados que têm aptidões rurais e querem trabalhar com agricultura ou pesca, porque Belém é uma cidade urbana, mas não é só urbana, temos 39 ilhas”, explicou o Secretário de Economia do Município de Belém, Apolônio Brasileiro.

Para o Acnur, o balanço positivo do fórum se deve principalmente às conexões entre organizações que saíram fortalecidas e aos compromissos feitos pelo poder público. “A gente percebeu o engajamento do poder público, do governo do estado, do município. Ficou muito claro que esses governos têm contato com o tema, têm interesse em buscar soluções”, reiterou Paulo Sérgio de Almeida, Oficial de Meios de Vida do ACNUR Brasil.