Aplicativo Castanhadora ganha prêmio de inovação social das Nações Unidas

  dezembro 19, 2019

Por Clarissa Beretz

Definir o preço da castanha-do-brasil é um exercício complexo para os extratores do fruto nas regiões ao norte do País. Para se obter a castanha, os coletores realizam tarefas árduas e exaustivas como o deslocamento para os castanhais e a estadia por longas jornadas dentro da floresta. A mão de obra empregada, pré-beneficiamento, prejuízo com seca ou chuva, alta do combustível e quebra de ferramentas são exemplos de despesas que muitas vezes passam despercebidas ou são desconsideradas na hora de estabelecer o valor do produto.

Sendo assim, o extrativista não tem controle sobre a formação do preço do seu próprio produto, e a venda da castanha é feita “às escuras”, sem um mínimo balizamento do real custo de uma lata ou do quilo. Neste ambiente de desinformação e dependência, quem sai ganhando são os atravessadores.

Para orientar os castanheiros na formação do preço da venda da castanha, há três anos o IEB desenvolveu junto a parceiros o aplicativo Castanhadora. A ferramenta, usada pelo celular e disseminada há três meses entre os extrativistas, traz perguntas simples que os leva a calcular rapidamente qual deve ser o valor justo de sua safra para que possam cobrir seus custos e não tenham prejuízo.

A iniciativa acaba de ganhar o prêmio Innovation Challenge do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. O objetivo do edital foi identificar experiências e metodologias de inovação implementadas por instituições que estivessem alinhadas a tema das cadeias de valor e que pudessem ser ampliadas, continuadas ou aprimoradas com apoio dos recursos recebidos pelo chamamento. O prêmio é uma oportunidade para alavancar projetos que promovam o desenvolvimento sustentável local, fomentando a continuidade de experiências inovadoras.

“A Castanhadora realmente funciona, a gente faz a instalação offline, via Bluetooth, já que a conexão de internet é ruim em muitas comunidades”.

“Comecei até a calcular o preço de outros produtos, como a copaíba, e quando chegar a safra do açaí, vou testar também, porque é só ajustar as medidas. É muito bom ter certeza de que estamos cobrindo nossos custos”, atesta o extrativista Leonardo Carneiro do Nascimento, Resex Rio Ouro Preto, Guajará-Mirim, RO.

 

“O reconhecimento dado pelo prêmio de inovação social à Castanhadora é o coroamento de um trabalho de três anos que envolveu indígenas, extrativistas, servidores públicos, gestores de cooperativas e de processamento de castanha que conseguiram, num ambiente de troca e socialização de conhecimento – iniciado desde que começamos a rede Semear Castanha – atingir o objetivo de criar um aplicativo útil aos castanheiros. Estamos muito felizes com essa conquista”, celebra André Tomasi, coordenador pro projeto no IIEB.

Além do IIEB, estiveram envolvidos de forma direta na concepção e desenvolvimento do aplicativo um grupo de indígenas e extrativistas dos estados do Amazonas e Rondônia, além de técnicos das instituições parceiras como o Pacto das Águas, a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e a cooperativa de serviços EITA (Cooperativa de Trabalho Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão).  A concepção e desenvolvimento da Castanhadora abrangeu um total de 45 pessoas e contou com recursos financeiros do Serviço Florestal Americano (USFS) e da Climate Land Use Alliance (CLUA).

A notícia do prêmio foi anunciada no site do PNUD Brasil no dia 17/12, contemplando ainda mais 11 projetos de inovação selecionados.

Baixe aqui a Castanhadora: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.coop.eita.castanhadora