Povos do Sul da Amazônia fortalecem gestão integrada na defesa da floresta em pé e de direitos dos diversos atores locais

  dezembro 3, 2018

“O diálogo entre os extrativistas, indígenas e ribeirinhos do sul do Amazonas se dá pelo que nos une e não pelas nossas diferenças. Queremos todos a segurança do nosso território”, defendeu José Roberto de Lima, secretário de Meio Ambiente do município de Pauini. O encontro dos povos indígenas e populações tradicionais da região do sul do Amazonas envolveu, dentre os temas centrais debatidos, a defesa da região frente ao avanço do desmatamento e o respeito e garantia de seus direitos territoriais. O encontro, em formato de seminário, foi possível a partir do projeto “Gestão Integrada”, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

De 27 a 29 de novembro, lideranças da região sul do Amazonas estiveram reunidas no seminário, em Brasília, para dar encaminhamento a suas principais demandas e reivindicações ambientais e territoriais. As iniciativas por um maior diálogo entre os moradores das Terras Indígenas e das Unidades de Conservação no Sul do Amazonas, bem como com gestores públicos, despontaram com grande urgência nos últimos anos e foram trazidas pelas lideranças dos municípios de Lábrea, Pauini, Boca do Acre e Humaitá.

Raimundo Parintintin, liderança indígena e gestor na Funai do município de Humaitá, destaca o somatório de forças para encontrar uma estratégia frente ao cenário político atual. “O espaço de diálogo que o Seminário permite é para o enfrentamento na garantia dos direitos a nós previstos na Constituição Federal. É a formação estratégica para a continuidade de luta e aliança entre nós e os extrativistas”, declarou.

A luta comum entre extrativistas e indígenas encontra entre suas principais ameaças o avanço do agronegócio, grilagem de terras e o aumento do desmatamento da Amazônia.

Segundo o membro da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley Aguiar, o desmatamento da floresta atualmente atinge uma área de 7,9 mil km2 com tendência de aumento a cada ano. “O nosso desafio está em transformar a economia predatória da região em uma abordagem mais conservacionista. Precisamos, com o envolvimento das comunidades tradicionais, ressignificar a Amazônia frente ao Brasil, promovendo o desenvolvimento da região em convívio com a floresta, garantindo a qualidade de vida dos seus povos”, pontuou.

A defesa é corroborada pelo representante do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, que apresenta os diversos atores sociais da região como protagonistas de seus territórios. “Os serviços ambientais prestados por eles são fundamentais para a sobrevivência ecossitêmica dessas populações e da própria floresta”, acrescentou.

O desmatamento acaba sendo apenas parte das ameaças que pairam na região e colocam inúmeras situações de conflito, violação de direitos, esbulho, violência no campo e grilagem de terras. “Apesar da especificidade de cada grupo aqui presente, nossos objetivos são os mesmos, ou seja, queremos a conservação da floresta e a garantia dos direitos de políticas públicas para as comunidades e suas futuras gerações”, declarou José Maria Ferreira, gestor do ICMBio responsável pela RESEX Médio Purus, no município de Lábrea.

Ao promover a reflexão crítica coletiva, o seminário atende as demandas dessas comunidades indígenas e extrativistas por maior apropriação de informações e ferramentas para influir nos processos de governança territorial. Participam do encontro representantes dos povos indígenas Jiahui; Tenharin Morõgita, Parintintin, Sateré Mawé, Apurinã e Jamamadi; das calhas dos rios Madeira e Purus no Amazonas.Também integram a rede de parceiros membros de associações agroextrativistas das RESEX Ituxi; Médio Purus; Arapixi; Flonas do Purus e Humaitá. Ainda participaram do evento representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Pauini e do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pauini.

Há mais de dois anos, o IEB desenvolve ações de gestão integrada com lideranças indígenas, extrativistas e gestores de Unidades de Conservação e Terras Indígenas num processo formativo que, além do seminário, propiciou a elaboração do Plano de Ação de Gestão Integrada do Sul do Amazonas, com apoio da Fundação Betty e Gordon Moore e parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).